Topo

Menon

Desculpe, Rivaldo, mas fiquei triste em te ver

Menon

15/09/2013 13h23

Rivaldo;

Eu ando meio aborrrecido com a minha classe. Acho que parte dos jornalistas se acha o dono do mundo, dá palpite sobre tudo (eu mesmo sou um palpiteiro) e se intromete na vida de jogador de futebol. Discutem quanto um jogador merece ganhar, como deve ser sua vida fora de campo e dentro de campo, mostram uma dureza eterna contra os atletas e só amolecem quando os estão entrevistando. Já cansei de ouvir coisa do tipo: "só respeito fulano dentro de campo", como se tivessem o direito de se meter na vida privada das pessoas. Até hoje, me irrito com piadas sobre a carreira de Maradona ou porque Pelé é melhor que Maradona fora de campo. Como se fôssemos pagos para analisar a vida das pessoas segundo os nossos ensinamentos e nosso modo de entender a vida.

Estou enrolando um pouco mas vou chegar lá. Um tipo de arrogância é quando o jornalista decide que o jogador deve parar de jogar bola. Não dá mais, tá passando vergonha, está esquecendo o passado. Como se todo mundo tivesse a obrigação de parar por cima. E se o jogador amar tanto o futebol que prefere se arrastar em campo, defendendo camisas cada vez menos leves? Algum jornalista diz que tal médico deve parar, que tal engenheiro está fora de forma? Nada. Mas, como estamos falando de jogador, temos o direito, né?

Bem, eu não tenho o direito. Meu único direito é continuar te admirando eternamente, por tudo o que fez no futebol brasileiro. Mas, me desculpe, vou avançar a linha. Fiquei triste em te ver no jogo do São Caetano contra o Chapecoense.

Estava 4 a 2 para o Chapecoense e o Sérgio Guedes te chamou. Colocou a mão no seu ombro e deu algumas orientações. Falvatam o que, vinte, trinta minutos.?Você prestou atenção, entrou em campo, correu e…o Chapecoense fez mais dois gols. Completou a goleada por 6 a 2.

Rivaldo, você foi orientado por Zagallo, Parreira, Felipão, por técnicos estangeiros. Eles te chamavam e pediam pouca coisa, algo do tipo vai lá e ganhe o jogo para mim. Isso, antes de a partida começar. Não precisava pedir mais, você sempre teve consciência tática, sempre soube o que fazer.

E o que Sérgio Guedes te pediu? O que poderia ser? Alguma orientação tática, algum posicionamento revolucionário, pediu para tocar a bola e evitar o vexame maior?

Você nã precisa disso, Rivaldo. Você tem dinheiro. Tem vida estabilizada. Para que ficar se arrastando em campo, ouvindo Sérgio Guedes, levando de seis do Chapecoense, você que jogou no Barcelona? O que isso acrescenta? A adrenalina de entrar em campo, a alegria de ouvir seu nome ser gritado, ora, convenhamos, isso já é um retrato na parede. Está na memória.

Não sou arrogante para te pedir que pare. Você já me deu muito. Mas, desculpe a franqueza, fiquei triste em te ver. E não vou ver mais.

Um abraço do fã

Luís Augusto Símon

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.