Topo

Menon

Tricolor e Ponte: lei acima de tudo e coitadismo exagerado

Menon

17/11/2013 23h16

Em frente à Galeria do Rock, o som era dançante. Trompetes, sax, bombardinos, tubas e os 15 componentes do grupo Ôncalo chão – isso mesmo – homenageavam o gênio Tim Maia. No chão, diante das garotas e garotos, uma caixa com um furo. Ficou cheia de notas de dois ou cinco reais.

Com paz e alegria – adoro Tim Maia – caminhei pela 23 de Maio em direção à Praça da República. Logo vi um sujeito enorme com roupas de NBA dando o último tapa no baseado. A pose durou pouco. Pegou seus DVDs piratas e saiu correndo quando um colega chegou avisando que o rapa vinha ali. 

Entrei em uma farmácia e me lembrei do caso de uma mulher que foi presa por roubar um xampu. Vocês se lembram? Ficou meses na cadeias. Já perto da praça, vi um prédio invadido por militantes do Movimento Sem Teto. Não me lembro da sigla, são muitos, acho que não há um comando único. 

São Paulo é muitas. A cidade pulsa, mesmo em um calçadão em uma manhã de sábado. Na Praça da República, em uma das barracas de artesanato, li que os comerciantes possuem alvará. Estão dentro da lei. Pensei então que eu poderia:

1) Ligar para o Ecad e dizer que jovens estavam lesando a entidade e a família de Tim Maia, ganhando dinheiro com a música dele sem pagar os direitos autorais

2) Chamar um dos guardas e mostrar qual era o camelô, que, além de vender DVDs piratas, ainda estava com a Maria Joana. Como se isso aqui fosse o Uruguai!!!

3) Poderia exigir que a Polícia prendesse os invasores de prédios desocupados. Eles não tem casa? Tudo bem, mas e o direito de propriedade? Aqui não é a Bolívia. Temos leis.

Poderia ter feito tudo isso. Poderia ter exigido que a lei fosse cumprida à risca. Poderia também achar que o São Paulo está correto em exigir que o jogo contra a Ponte não seja no Moisés Lucarelli porque ali não cabem 20 mil pessoas como exige a Conmebol. Poderia, mesmo sabendo que faltam 300, 500 ou mil lugares.

Poderia, mas não sou assim. Em nome da observância estrita da Lei, muitas injustiças acontecem. E, nesse caso, fico contra a Lei. Fico com minha consciência.

No caso do São Paulo e Ponte, não vejo injustiça. Vejo uma oportunidade perdida de se praticar um espírito esportivo que já houve no Brasil. Não vejo porque os clubes precisam ser inimigos, não vejo porque se deve buscar vantagens mínimas – ainda que estritamente dentro das leis – para se ganhar um jogo, um campeonato. 

Vejo também o Sao Paulo fazendo de tudo para solidificar uma imagem arrogante. É a lei das elites. Eu tenho uma grande casa, você não tem, então se vira. Sou contra invasão de prédio. Sou contra o jogo em Campinas. Sou pela Lei, sempre. Não faço sexo antes do casamento, é a lei da minha religião. Não fraudo o imposto de renda. Não furo fila. Não corro para ficar com a vaga no estacionamento.

Sigo a Lei.

Ah, por isso vou logo conversar com o Flamengo para devolver a Taça das Bolinhas. A Lei mostrou que é deles.

A Lei está ao lado do São Paulo. Não há como reclamar. Mas, precisava isso tudo?

Tão ruim quanto essa intransigência do São Paulo, eu considero o fato de a Ponte ter aparecido com um laudo dizendo que cabem 28 mil pessoas em seu estádio. Isso é uma brincadeira muito perigosa. Se venderem 28 mil ingressos para um jogo lá e houver uma briga,  algum incidente grave, até morte pode ocorrer. Basta ver como fica bonito o Majestoso com 16 mil pessoas. Fica lotado. Como caber 28 mil?

E pernicioso tambem é o espírito de "coitadismo" a favor da Ponte. Depois da maravilhosa vitória sobre o Vélez, a atitude do São Paulo passou a ser de um sujeito maldoso contra um pobrezinho. Nada disso, né gente? A Ponte tem torcida organizada, tão violenta quanto as outras. A Ponte não permitiu que a torcida do São Paulo fosse ao campo no primeiro turno do Brasileiro.

Ninguém é virgem nesse bordel.

Não é um jogo de bandido x mocinho. Não é grande x pequeno. Hà muita coisa a ser analisada. A Ponte só está sendo defendida por jornalistas quixotescos porque o adversário é o São Paulo, clube arrogante com diretoria arrogante.  Caso contrário, não se falaria nada. Se fosse o Guarani se recusando a jogar no Moisés Lucarelli, alguém tomaria partido da Ponte de maneira tão radical? 

Os mesmos que fazem da Ponte uma santa, tentaram canonizar Diego Costa há pouco tempo. Ah, ele tem alma espanhola, escolheu jogar pelo país que o acolheu etc etc. E se esquecem que há poucos meses, Diego Costa havia aceitado a convocação da seleção brasileira. Ele não tem nada de santo. Escolheu – dentro de um direito que a Fifa lhe deu – jogar pelo pais que lhe traria menos problemas.

Usou a lei. Como o São Paulo usa agora, embora eu ache que não deveria usar.

Se fosse um clube europeu fazendo isso, não haveria tanta repercussão por aqui. Talvea dissessem que a Europa é linda porque a lei é seguida. 

A grama do vizinho é mais verde. Como disse um amigo, falam mal do Brasileiro e adoram Islândia x Croácia.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.