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Crítica: Animação 3D argentina é apologia à grandeza dos derrotados

UOL Esporte

28/11/2013 11h57

Metegol, na Argentina, e como se chama o jogo de pebolim (ou totó, ou fla-flu, dependendo da parte do Brasil onde você mora). Metegol é também o nome do mais caro filme argentino de todos os tempos. Uma animação em 3D que custou US$ 20 milhões e estreia no Brasil no dia 29, com o nome de "Um Time Show de Bola". Vai deixar os que adoram uma rivalidade com os argentinos com uma sensação de desconforto e com vontade de perguntar: "caramba, como eles fazem filmes tão bons"?

Juan Jose Campanella é parte da resposta. O diretor, de 54 anos, que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010 com "O Segredo dos Seus Olhos", é um craque. Tem uma carreira solidificada nos Estados Unidos – dirigiu episódios de séries consagradas como House e Law & Order: SVU, além de Ed, Law & Order: Criminal Intent. Tem uma parceria de sucessos com Ricardo Darin, o melhor e mais conhecido ator argentino. Fizeram juntos "O Mesmo Amor, A Mesma Chuva", "Lua de Avellaneda" e "O Filho da Noiva".

Campanella fez há algum tempo uma confissão surpreendente: não gosta muito de futebol. Nem tem um time preferido. Difícil acreditar em uma neutralidade assim vinda de um argentino, tão ou mais fanáticos pelo maior de todos os esportes como nós, brasileiros. Mais difícil ainda de acreditar quando se lembra da maravilhosa sequência de "O Segredo dos Seus Olhos", filmada em um campo de futebol, quando um assassino é perseguido e corre pelos labirintos do estádio. E mais difícil ainda quando se vê "Um Time Show de Bola".

Sim, porque a meia hora final do filme é um jogo de futebol. O cinema se torna um campo. E ali se decide muita coisa: o amor de uma mulher, o destino de uma cidade, uma pendência de muitos anos, desde a infância de Ezequiel, o maior jogador de futebol do mundo, e Amadeo, o maior jogador de pebolim da pequena cidade.

Amadeo, que é muito tímido e não tem nenhuma habilidade social ou mesmo futebolística, quando se fala do futebol verdadeiro e não de pebolim, comete o "crime" de derrotar Ezequiel, que já era o melhor jogador da cidade. Ele sai de uma derrota por 3 a 0 no pebolim para um 4 a 3, incentivado por Laura, a menina que gosta.

Ezequiel deixa o bar revoltado, seguido por seus colegas de turma. Amadeo fica no bar, comemorando com Laura e com seus amigos de madeira: Capi, o capitão que comanda os outros jogadores, Beto, que só fala na terceira pessoa e não conhece a palavra modéstia, Louco, mistura de filósofo e jogador, além de outros com menor importância, como o Coreano, o Russo e Julinho Carioca.

Na saída do bar, Ezequiel é abordado por um empresário que promete transformá-lo no melhor jogador do mundo, com direito a poder e riqueza. E é o que ele tem, quando está de volta à cidade para o confronto final. Amadeo, por sua vez, continua no mesmo bar, tentando novas jogadas com seus velhos amigos de madeira e é surpreendido pela decisão de Laura, que decidiu estudar na Capital.

Quando Ezequiel suborna o prefeito, ganha a cidade para si, destrói o bar onde foi derrotado pela única vez e joga a mesa de pebolim em um lixão, Amadeo se transforma. Corre em busca dos amigos de madeira, que ganharam vida – ou melhor, estão lutando pela vida contra ratos imundos – mas se vê diante de um desafio maior de todos. Ezequiel o desafia para um jogo, mas não de pebolim. Um jogo de verdade em seu estádio particular.

Amadeo aceita. E, contra os melhores jogadores do mundo, monta uma equipe formada por pessoas comuns como o padre da cidade, o ladrão, o guarda, o gigantesco garçom e a mulher que sofre com excesso de hormônios masculinos.

E aí está a maior contradição. Na hora do jogo em que tudo se decide, é bom lembrar que Campanella disse que nem gosta tanto assim de futebol. Porque, como disse o critico Roman Cárdenas, o que se discute ali não é apenas futebol: é tradição x progresso, sentido coletivo x individualismo, paixão x especulação e triunfo x êxito.

Metegol, que tem um início espetacular com homenagem a "2001 – Uma Odisséia no Espaço" e um final emocionante com um jogo de pebolim na garagem – pode ser definido como uma apologia à grandeza dos derrotados. E como uma prova irrefutável que existe animação longe da Pixar e da Disney. Logo ali, em Buenos Aires.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.