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Nilton Santos, o bom velhinho

Menon

29/11/2013 06h09

niltonsantosEu queria escrever sobre Nílton Santos. Mas é difícil para mim. Garoto caipira de Aguaí só fui conhecer o Maracanã quando Romário fez dois no Uruguai e nos classificou para a Copa. Não tenho, então, memória afetiva do maior lateral esquerdo da história do futebol. É o que dizem os craques do jornalismoe eu acompanho.

Tenho certa dificuldade em aceitar estórias que viram história. O jornalismo nos anos 50 era muito diferente do atual. E nem estou dizendo que era melhor, com certeza era mais gostoso de se ler. Então, não gosto de repetir que Nilton Santo desobedeceu Vicente Feola, ultrapassou o meio campo e fez um gol na Áustria em 1958. Feola não era nenhum tonto e, ao barrar Canhoteiro, o gênio do drible que jogava em seu time, o São Paulo e Pepe, o segundo artilheiro da históra do Santos para escalar Zagallo sabia o que estava sabendo. Estava montando um 4-3-3 e, para isso, contava com as subidas de Nilton Santos. Ou a gente vai acreditar que ele colocou Zagallo para ajudar Nílton Santos?

Poderia falar sobre a "andadinha" que deu no jogo contra a Espanha, enganando o árbitro apos um pênalti. Mas isso é menor diante de uma carreira tão maravilhosa.

Difícil escrever sobre quem você não viu jogar e ainda depois de tanta gente boa haver escrito. Ia desistir, ma recebi esse desenho feito pelo Fausto Bergocce e fiquei a pensar em algo que não tivesse sido dito. Foi então que Rubens Leme da Costa, meu anjo da guarda – um pouco obeso – me ligou. Rubens é jornalista – escrevemos juntos o livro "Os donos do Mundo", sobre campeões mundiais de futebol – e largou a profissão para formar uma banda de punk-reggae no Maranhão. Casou-se com Naiacy, professora e ex-groupie da banda. 

O Rubens me disse que uma vez havia entrevistado Nilton Santos, que o tratara muito bem. Então, se fez a luz. Me lembrei que em 1999 fui a Brasilia acompanhar o Corinthians em uma partida – era a estreia de Luisão – e que à noite, fui recebido na casa de Nilton Santos. Havia marcado a entrevista um dia antes.

Ele me pareceu um avôzinho simpático. Ficamos em uma sala e sua mulher trouxe café e bolachinhas. Ele falou muito sobre futebol. Me disse que a bola o havia feito um homem feliz. Falou sobre o papel de conselheiro de Garrincha. E só perdeu a linha quando falou que, depois do Maracanazo, foi convidado por Zizinho para participar de jogos amistosos contra o Uruguai. "Nunca aceitei. Depois que eles ganharam da gente em nossa casa eu vou dar a mão para eles? Nada disso, amistoso com eles, não. Só queria jogo para valer e nunca perdi".

Dizem que, aos 25 anos, em 1950, ele poderia ser titular na Copa. Mauro Ramos, capitão de 62,  também era reserva. Nilton Santos poderia ter parado Ghiggia? Não faço a mínima ideia. O Uruguai era um time muito bom, como o Brasil. Aquilo não foi zebra como gostamos de dizer.

Mas isso é teoria.

O importante é que escrevi sobre Nílton Santos.

Isso não tem a menor importância na vida dele.

Tem na minha.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.