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Macaca é simbolo de resistência ao "padrão Fifa"

Menon

12/12/2013 20h57

Convidei meu amigo Stephan Campineiro para contar como foi

acompanhar a Ponte em sua luta  por um título

SERÁ SIM, MAS NÃO EM 2013

Stephan Campineiro

Acabo de chegar em casa, ainda de ressaca, depois de uma maratona de 41 horas, com apenas quatro de sono, para acompanhar a partida entre Lanús e Ponte Preta, em Buenos Aires, na decisão da Copa Sul-Americana.
Desta vez, em vez de uma cobertura jornalística como tantas outras, estava lá por prazer, para acompanhar direto de "La Fortaleza" a Ponte Preta em sua primeira decisão internacional. Estava lá não a trabalho, mas ao lado de muitos amigos com quem cresci nas arquibancadas do Estádio Moisés Lucarelli, o Majestoso, à espera do primeiro grande título do clube.
Como você já sabe a essa altura, a Ponte Preta amargou, de forma incontestável, mais um vice-campeonato ao perder por 2 a 0. Desde o primeiro minuto, o Lanús, superior tecnicamente, dominou a partida, acuou o adversário em seu campo e, naturalmente, marcou dois gols ainda no primeiro tempo. A Macaca, em momento algum, esboçou a reação e sofreu com as limitações de um elenco mal formado durante a temporada – a falta de um reserva para a vaga do lateral Uendel, suspenso, não deixa dúvidas sobre isso – e repleto de jogadores de qualidade técnica discutível, mesmo entre os titulares que colocaram o time naquela decisão.
Analisando friamente, o resultado final não causa surpresa. A surpreendente decisão da Copa Sul-Americana reuniu um clube que disputa o título argentino contra um time que acabara de ser rebaixado no Campeonato Brasileiro. As dificuldades da Ponte Preta contra o adversário no empate por 1 a 1, no jogo de ida, no Pacaembu, já deixavam claro que a decisão na Argentina seria dificílima.
Ainda assim, não titubeei em seguir para Buenos Aires. Assim como fizeram outros quatro mil pontepretanos. Lembro-me que, em dezembro de 2012, assim que a Ponte Preta garantiu sua classificação à Copa Sul-Americana, as redes sociais começaram a exibir a imagem de um gorila sobre um avião, com a frase "A América do Sul nunca mais será a mesma". Debutar em uma competição internacional era um sonho acalentado por muitos anos pelo torcedor da Macaca, mas tudo aquilo parecia um exagero, uma enorme pretensão. Não foi.
Desde a estreia na torneio, contra o Criciúma, quando o time já começava sua queda irreversível no Campeonato Brasileiro, a Ponte Preta mostrou outra postura – e um bom futebol – na Copa Sul-Americana. A impressão era que o desejo da torcida prevalecia – ainda que a diretoria deixasse claro a prioridade pela salvação no Campeonato Brasileiro – e empurrava o time no torneio continental.
Foi assim, com enorme aplicação tática, doses cirúrgicas de bom futebol e empurrada por sua torcida, que a Ponte Preta chegou à decisão da Copa Sul-Americana. Foram 600 pontepretanos na longínqua e desconhecida San Juan de Pasto, na Colômbia, e 1200 contra o temido Velez Sarsfield, na Argentina, até o início das "invasões símias" das últimas quatro semanas, contra São Paulo e Lanús. No grito de sua torcida, do refrão "Ponte, Macaca querida, amor da minha vida, sou louco por você", os loucos torcedores da Ponte Preta apresentaram seu clube aos irmãos da América do Sul.
Foram três mil pontepretanos no Morumbi e 12 mil em Mogi Mirim, local em que a Macaca mandou sua partida contra o Tricolor. Na decisão, 28 mil "macacos" invadiram a capital para transformar o Pacaembu em "Macacaembu" e outros quatro mil foram até Buenos Aires em busca do título que escapou mais uma vez.
A perda doeu, muita gente deixou o estádio revoltada, prometendo "dar um tempo" e deixar a Ponte Preta de lado. Palavras ao vento, pronunciadas no calor da decepção. No fundo, no fundo, o pontepretano sabe que não consegue se afastar da Macaca. E sabe que é ele quem faz deste clube do interior, sem cotas milionárias e títulos de expressão, algo diferente no cenário do futebol brasileiro. Um símbolo de resistência diante de um futebol cada vez mais "padrão Fifa", mais confortável, é verdade, mas cada vez mais sem graça. Exagero? Veja a situação de penúria dos demais clubes do interior paulista, outrora celeiros de bons jogadores e exemplo de gestão. Veja o que fizeram do Guarani, eterno rival alvinegro.
Imaginar qual será a próxima oportunidade de título para a Ponte Preta não é tarefa fácil. Este não é um clube acostumado às decisões. Pode até ser que, da próxima vez, o sonhado título escape. Mas ele, certamente, ainda virá e a Ponte Preta, o pontepretano, enfim, poderá gritar ao quatro cantos que é campeão. A Ponte Preta será, sim, campeã. Até o lado verde de Campinas sabe que esse dia chegará. Só não será em 2013. Mas chegará. Afinal, como reza o dito popular, "não há mal que sempre dure".

 

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.