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Menon

Brasil precisa imitar Aguaí e seu garrincha loiro

Menon

23/12/2013 06h07

Nenhum de vocês tem idade para acreditar em Papai Noel, mas é Natal e vou fazer um pedido assim mesmo. Que em 2014 o futebol brasileiro dê novos passos rumo à credibilidade, como foi o nascimento do Bom Senso F.C.  Que o futebol recupere seu lado lúdico e que não se fale tanto em gestão, marketing, naming rights e que crianças não discutam se o gerente de futebol de seu time é melhor que o do rival.

E que tudo se decida dentro de campo, como é em Aguaí, Casa Branca, São João da Boa Vista, Itapuí, Águas da Prata, Indaiatuba, Tambaú e em toda cidade do interior do Brasil. E em todo campo de várzea do Brasil. Que o futebol vença e se fortaleça em ano de Copa.

Deixo para vocês um texto que fiz em 2008, Ele homenageia um colega de infância, a quem sempre invejei pela capacidade de driblar. Valdir Sorence, o Valdirzinho, o Validr Loiro, ganhou e perdeu. E nunca foi ao tapetão. Assim como ele, Dirceu, Toró, Fumaça, Jair Brito, Reduzida, Cadete, Carlos da Carolina, Cezinha, Sodinha, Nardo, Leitão, Pércio, Percival, Ziquinho, Gilmar, Quimba, Roso, Pedrinho Chinês, Pedrinho Pintado, Gazela. Todos campeões. Nenhum tapetão.

O GARRINCHA DE AGUAÍ
Os meus ídolos me driblavam como se fossem garrinchas e eu, um João qualquer. Me desarmavam como se fossem Beckenbauer e eu, um juvenil tailandês. Me mandaram para o gol como se eu fosse o que era; o gordinho dono da bola.
A bola chegava sempre no 25 de dezembro. A fila em frente à casa do professor tomava parte da calçada. Todos esperando a número cinco novinha que seriaVALDIRLOIRO acariciada por eles e maltratada por mim, Edinho (irmão da Cleonice) e Lourival. O trio calafrio. Seria, por um ano, uma das atrações da General Osório, esquina com Washington Luiz.
Ali, ficava um gol. Três tijolos de um lado, outros três do outro. Uma área feita com os pés na areia. Tudo se repetia do outro. E nós vivíamos as alegrias e tristezas da infância, restritas a gols marcados e frangos sofridos.
O jogo tomava as tardes. Só era paralisado com a passagem de um carro (eram poucos naquela Aguaí do início dos anos 60) ou quando caía no quintal do Juca Pires. Quando Nonô, filho dele, estava jogando, ia buscar. Quando não, alguém pulava o muro, sempre com medo dos cachorros.
O time da rua era bom. Mirto do Anísio, Zeca do Anísio, Paulo Grillo, Valdirzinho, Osmerinho, Zé Leite, Wilson Perina, Nonô, Edinho, eu, Loro, Tininho e tantos outros. Foram cinco ou seis anos diários. Brincando de bola.
Depois, a troca de campo. Atravessamos a linha do trem e nos instalamos no terreno onde se instalavam os circos. Foi um trabalho duro. Limpar, capinar, arrancar um limoeiro velho que mostrou por dias a força de suas raízes. Vencemos o limoeiro e pudemos jogar, pela primeira vez, com traves de madeira. Foi uma vitória imensa. Quando o circo chegava, era nossa vez de sair.

BANGU
Até aí, acompanhei os meus ídolos. Depois, me dediquei ao futsal, que ainda se chamava futebol de salão. Nada de bom apresentei. Continuei o mesmo perna de pau. No currículo, apenas um surpreendente chapéu em Serginho Jumento. Me valeu um aperto de mão. Serginho era muito bom. Um dos grandes vencedores no futebol de Aguaí.
Eu fiquei e eles continuaram. Transformaram-se em grandes ídolos da cidade. Espalharam-se pelo Bangu (o grande time), Vila Braga, Vila Nova, Saragossa (assim mesmo), Boca Junior (assim mesmo) e outros times aguaianos. Foram ídolos. Ah, como eu quis ser como eles!
Um ídolo na cidade pequena está ao lado do fã. É reconhecido e admirado. As meninas andam atrás. Como deve ser maravilhoso saber que uma garota almoçou correndo ou disse que precisava ir à casa da amiga para ter tempo de correr ao estádio e te ver jogando? Aplaudir, gritar seu nome?
Meus ídolos tiveram isso. Foram motivo de discussão nos bares da cidade. Cervejas e coxinhas foram consumidas em torno dos seus nomes. Quem é melhor, sicrano ou fulano. Ah, como eu gostaria de ter sido sicrano ou fulano.
Meus ídolos lotaram o Leonardo Guaranha. Fui ver muitos jogos, mas depois saí da cidade. Com 15 anos, fui estudar fora. Mas nunca esqueci de como eles jogavam.
Para mim, o melhor de todos era Valdirzinho. Filho do seu Osmério, era um loirinho que se destacava. Houvesse um Garrincha norueguês, seria como Valdirzinho. Driblava com a esquerda, com a direita, de um lado ou de outro. Driblava, parava e driblava de novo. Imparável. Imarcável.
Fez parte do grande Bangu, que tinha Ricardo, Ratão (o Nonô da minha rua, com novo nome), Leonardo, Toró e Nisião; Carlos da Carolina e Valdir Moreno, Zé Flecha, Tião Canela, Dirceu e Valdir Loiro. Paulo Ramos também jogava.
Hoje, Valdirzinho espera um novo neto. Vive feliz com a Mirian, que tem nome igual ao da minha mãe. Organiza encontros sensacionais de velhos jogadores. Sempre me convida. Eu nunca consegui ir. Falta de folga no dia da festa, mas também um pouco de timidez. Não sou mais o dono da bola. Não tenho mais o direito de estar ao lado dos meus ídolos.

PS – JÁ FUI EM ALGUMAS FESTAS. EM 2014 EU VOLTO. A CERVEJA É BOA, A CARNE É BOA, A MÚSICA É BOA E SEMPRE HÁ SUPRESAS. NO ÚLTIMO ANO, FOI O SHOW DE BOLA DO DITO SABINO, VOVÕ NA NINA

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.