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O javali de Klinsmann e o exército de Guto Ferreira

Menon

17/01/2014 19h19

Jurgen Klinsmann parou diante do javali por alguns segundos. Estava realmente intrigado com o tamanho do animal, mesmo sem cabeça, esticado na mesa, aberto e recheado com farofa. A principal atração do churrasco que a delegação dos EUA ofereceu a jornalistas no CT da Barra Funda.

Foi então que o técnico da seleção dos Estados Unidos pediu a palavra uma vez mais. Ele, que já havia sido muito simpático ao apresentar todo o seu staff, agora foi brincalhão. "Um minuto de atenção. Quem precisar de um bom preparo físico para se aventurar a comer esse animal tão grande, pode recorrer aos nossos profissionais. Estão à disposição de vocês".

Aos 49 anos, o autor de 47 gols pela seleção alemã – onze deles em Copas do Mundo – demonstra estar de bem com a vida. Depois do treino, deu várias voltas pelo gramado, mostrando ótimo preparo físico. Com um pouco de boa vontade, poderia arrumar um lugar no elenco de Muricy, que tem apenas Luís Fabiano, Osvaldo e Adeílson como opção.

Poucas horas depois, a alguns quilômetros dali, um outro treinador demonstrava muito bom humor. Um bom humor sem razão que o justifique. Guto Ferreira está bem acima do peso e não dirige uma seleção pronta a disputar a Copa do Mundo.

E, se Klinsmann não deve –se for realista – pensar em título, Guto é muito mais pé no chão. "Nosso time vai lutar pela permanência no Paulistão", disse, evitando a frase "brigamos contra o rebaixamento uma vez mais".

Ele, que estréia domingo, "apenas" contra o Corinthians, recebeu o exército que lhe dará suporte na briga contra a desgraça. Onze novos jogadores. Um time. Dos onze, apenas sete estão devidamente regularizados – embora seja um grande risco colocar Portuguesa e jogador regularizado na mesma frase sem correr o risco de ir aos tribunais – e apenas quatro podem ser escalados. André Vinícius, Gomes e Giovanni pertencem ao Corinthians. Como reclamar, se os jogadores recebem o salário diretamente do co-irmão? Estariam liberados com o pagamento de uma multa de R$ 500 mil cada um, o que significaria a folha  do clube por três meses.

Klinsmann jogou com craques. Ao lado de Ilgner, Buchwald, Augenthaler, Berthold, Reuter, Brehme, Hassler, Kohler, Matthaus, Littibarski e Voeller ganhou a final da Copa de 90, contra a Argentina e Maradona e seu companheiro Dezzotti (quem? ). Talvez olhe para seus esforçados comandados de hoje e sinta falta do passado.

Para ter saudades,  Guto não precisa chegar aos anos 90. Basta lembrar do time do ano passado, que conseguiu escapar do facão em campo. Nada de Matthaus. Bruno Henrique é o nome da lembrança. "Esses reforços que chegam hoje são o que é possível pagar com a nossa folha salarial. Para mim, são ótimos. Vou lutar com eles. Entrar em campo eu não posso, com esse corpo só posso ser goleiro de futebol de mesa".

Guto não reclama de trabalho. Mas não se  conforma com a tabela. "Vamos fazer sete jogos em casa e oito fora. Tudo bem, mas nas nove primeiras rodadas, serão apena três em casa e seis fora. E dos três em casa um é contra o Corinthians. Acho que não gostam da Portuguesa lá na Federação".

Após a reclamação, Guto ri. Um riso um pouco nervoso, bem diferente daquele confiante de Klinsmann, surpreso com a primeira vez que viu um javali pela frente. Ou melhor, deitado, morto, escancarado à sua frente.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.