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Álvaro Pereira dá lição em Alexandre Pato

Menon

26/01/2014 18h41

Se futebol fosse apenas a união de técnica com habilidade, haveria uma legião de corintianos chamados de Sócrates e Rivellino. Nenhum Basílio. Diego Lugano já seria apenas uma lembrança e Dudu há muito teria sido eclipsado pelo brilho do divino Ademir.

Ainda bem que não é só isso. Seria muito chato e não haveria lugar para ídolos inusitados.

Torcedor gosta de chapéu, de rolinho, mas adora mesmo é um carrinho. O suor conta tanto quanto a inspiração. E, nos dias de hoje, jogador que demonstra amor a um clube na mesma proporção que exercita obediência ao empresário, só tem a ganhar. A gente sabe que o cara é do Orlando da Hora, do Eduardo Uram, do Cláudio Guadagno, do Gilmar Veloz mas adora saber que não é só isso. Quando for só isso, acabou o futebol.

Se eu fosse empresário de Alexandre Pato, o faria entender – ou procurar entender – porque um grosso como Geraldão será lembrado para sempre. Porque sempre haverá um pai corintiano contando a seu filho sobre Ezequiel, Cristian e tantos outros. Assim, Pato poderia espantar-se menos ao ser vaiado em campo. "Não jogo sozinho, tem mais dez comigo", disse.

Ora, Pato, inocente criança, é justamente o contrário. Os outros dez estão em campo. Você é que está faltando.

Pato vive em um mundo paralelo, só seu. Isso ficou mostrado em sua incompreensível reação ao fazer um gol de pênalti em um joguinho qualquer dias depois de haver recuado aquela bola para Dida. Aquela que eliminou o time na Copa do Brasil. Pato pegou a bola, correu para a torcida e fez gestos, como se estivesse dizendo que a dívida estava paga. Não tem ninguém para explicar à essa criatura de Deus que as coisas não são assim? Não tem nada pago, mano. Aqui é nóis. Corinthians está muito mais para rolezinho do que para desfile de moda.

Alvaro Pereira tem muito a ensinar a Pato. Não sobre técnica ou habilidade, mas sobre profissionalismo. Chegou ao seu novo clube com juras de amor que pareciam sinceras. Disse estar pronto para estrear e entrou em campo como se fosse velho jogador do São Paulo. Com personalidade, foi ao fundo e cruzou. Acertou vários, inclusive resultando no segundo gol. Cobrou escanteio dos dois lados. Foi e voltou constantemente, com muito "despliegue" como dizem os uruguaios.

Mas ganhou pontos mesmo com a torcida aos 32 do primeiro tempo. Chegou atrasado à uma bola e fez falta feia. Imediatamente, o bandeirinha sinalizou para o árbitro. A lei da vantagem foi observada e o jogador do Oeste se mandou para o ataque. Preveniu-se da cobertura da zaga (que não houve) e cruzou. A bola foi interceptada por Palito Pereira, que não ficou no chão fingindo que não havia feito falta. Correu como podia e ajudou a eliminar os efeitos de seu erro inicial. E ainda teve a cara de pau de reclamar do justíssimo cartão amarelo pela falta no início da jogada.

O Oeste é fraco. O campeonato paulista é fraco, mas é um livro aberto à disposição para que jogadores escrevam a sua história. E, se depender do que se viu nesse final de semana, no futuro dirão que Álvaro Pereira era um bom jogador, não era um craque, mas que, com muita vontade se transformou em ídolo da torcida e que Pato, que era um craque, inexplicavelmente fracassou no Corinthians.

E, cá entre nós, não é tão inexplicável assim. Palito Pereira sabe que futebol é muito mais que a soma de habilidade e técnica.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.