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Menon

Minha homenagem à Trivela

Menon

31/01/2014 19h09

A Trivela (ou seria O (de site?) Trivela está completando 15 anos. Convidaram alguns ex-colunistas para dar um depoimento. Não me chamaram. Preferiram, por exemplo, Mauro Beting. Pode? Um cara que coleciona CDs da Sinead Oconnor?

Bem, o azar é deles. Isso é fruto da ausência de Caio Maia, que, desde a Big Apple, não consegue perceber as lambanças dele, Ubratan Leal, o pequento títere de Okinawa, esse Kim Jong-Un do Itaim.

Mas eu não ligo. O importante é dizer que, como todos os outros que passaram por lá, tenho orgulho desse período da minha vida profissional. Foi muito bacana conviver com Bertozzi, Hoffman, Luciano, Lobo, Pedro Venâncio, Stein e ele, o mascote da K-League.

Fiz o melhor que pude por lá. Muitas vezes não fui compreendido. Quando disse que Neymar jogaria fácil no Barcelona, ofenderam até a minha terceira geração. Eu era burro, pacheco, cara de melão, não era possível que eu não percebesse que na canteira culé havia pelo menos 30 neymares, que ele nunca chegaria aos pés de cuenca, pedro ou tello.

Em me assustei. Pensei que canteira culé fosse alguma dupla pop boliviana.

Um rapaz ligou para ele, o gênio da garrafa, e pediu meu emprego. Disse que, como era leitor assíduo do site, seus cliques o transformavam em uma espécie de sócio e que tinha direito de exigir minha saída. O motivo? Eu disse que, se era para ser segundo sempre, o Real podia dispensar o Mourinho e contratar o Jair Picerni.

Ubiratan me defendeu. Fiquei muito orgulhoso com a atitude dele, um amigo. Um pequeno grande homem.

Bem, paro por aqui. Esperei por dias pelo convite para dizer o que senti em trabalhar na Trivela. Como fui preterido por Mauro Beting – o que ele tem que eu não tenho? – me antecipei. Obrigado, Trivela. Foi um prazer.

Abaixo, um dos maravilhosos textos que fiz para o site. Não adiantou nada. Fui preterido por ele, o multimídia Beting.

CLÁUDIA BALDERRAMA, CAMPEÃ

Foi no quilômetro 15 que Cláudia Balderrama decidiu que venceria a si mesma, suas falências técnicas, seus erros de postura, sua indefinição esportiva, sua baixa autoestima, a falta de estrutura esportiva da Bolívia e nem sabe o quê mais.

A decisão veio com o cartão de advertência. Uma vez mais, como em tantas outras, havia tirado sola do pé e calcanhar do chão ao mesmo tempo. Havia flutuado, algo comum para uma corredora de fundo – que já foi – mas proibido para quem compete em marcha atlética, como ela faz há dois anos.

Dessa vez não, dessa vez não, Cláudia passou a repetir. Dessa vez, eu ganho. Mudou a postura, levantou o corpo, arrumou o quadril e deixou o céu para os pássaros. Fincou s pés no chão, nada de flutuar e foi em frente. A inspiração veio para a pequena folha de papel, com o desenho de uma gota de água azul, que trouxe para Londres. Presente da sobrinha Brittany, para mi amada tia.

Houve ainda alguns momentos em que pensou em desistir, mas o grito de poucos  bolivianos – sí, se puede – foi uma espécie de combustível. Mal sabe que um dos bolivianos era um gordo jornalista brasileiro. Pensou também em janeiro de 2010, quando seu treinador Duberty Flores lhe deu o ultimato. O que vai ser? Cinco mil, dez mil, meia maratona, maratona? A resposta o surpreendeu, Cláudia esqueceu que nunca acreditou em si mesma quis ser marchadora, a prova mais bela que há. A prova de seu coração.

Abraçaram-se e começaram a trabalhar. O treinamento mais forte foi em Chacaltaya, montanha a 5300 metrosde altura, acima deLa Paz. Também no lago Titicaca, no Peru. Claúdia treinou muito. O descanso era para ouvir rock de Grillo Villegas y Loukass, que o acompanhou também durante a prova. Cantava, pensava no passado, lembrava de Britany e foi se aproximando das que estavam em sua frente.

Cláudia estava perto de vencer Cláudia. Fez os dois últimos quilômetros em 9min11s, contra os 9min37s do tramo anterior e muito melhor que os 9min51s com que correu do do 14 ao 16. Justamente quando houve o cartão. Passou por duas e depois por mais três. E ganhou, com 1h33min28s, o melhor tempo de sua vida. Levantou os braços, deu um pulo e procurou apoio nas cordas de proteção.

Depois, a entrevista. A voz começou firme, mas foi afinando, entre uma puxada de ar e outra. E se transformou em um choro aberto quando um voluntário a cobriu com uma toalha. Chorou e pediu que o governo boliviano ajudasse mais, que começasse um trabalho agora para o Rio-16. Lembrou da altitude de seu país, propícia para surgimento de marchadores e maratonistas, homenageou colegas que abandonaram esporte, prometeu continuar estudando Psicologia na Universidade San Andrés em La Paze começou a pensar em melhorar ainda mais porque aí vem os Jogos Bolivarianos, os Jogos da Alba e muito mais.

Ah, antes de Cláudia Balderrama, 32 atletas – três russas, três chinesas, três espanholas, duas portuguesas, duas italianas, duas irlandesas, duas ucranianas,  duas japonesas, duas australianas, duas lituanas, duas polonesas, uma alemã, uma guatemalteca, uma colombiana, uma mexicana, uma norte-americana, uma bielorrusa e uma letã – cruzaram a reta de chegada.

Nenhuma delas se empenhou tanto em vencer Cláudia Balderrama como a própria Cláudia Balderrama.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.