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Pantera x Leão. Quem precisa de time grande?

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08/03/2014 09h22

Um Come-Fogo à moda antiga

Igor Ramos, autor do livro Come-Fogo, Tradição e Rivalidade no Interior do Brasil

Ribeirão Preto acordou diferente nesse sábado. A cidade do interior paulista está agitada. Nas esquinas, nos bares, na conversa com o taxista, no papo regado ao famoso chopp gelado o assunto é o Come-Fogo, como há muito não se via e ouvia.
Passado e presente marcaram encontro hoje à noite no Santa Cruz e certamente o campo do Botafogo pulsará como nos tempos de Baldochi, Júlio Amaral, Zé Mario Baroni, Sócrates, Jair Bala, Carlos César, Paulo Bin, Mauricinho, Raí, Didi, Geraldão, entre outros  craques de duelaram nesse clássico interiorano, quase centenário.
E não é exagero colocar um pouco de saudosismo para esperar um Come-Fogo daqueles, quando multidões saíam à pé de suas casas em direção ao estádio, caminhões abarrotados de gente nas caçambas subiam as ladeiras e avenidas.
A paixão que desperta até naqueles que andavam sumidos dos estádios é a mesma, embora o tempo tenha mudado algumas coisas. Hoje provavelmente nenhum botafoguense sairá festejando a vitória nas ruas arrastando penicos amarrados no paralamas do carro para provocar o rival. Tampouco promovendo o enterro do Comercial na Vila Tibério, cantando .. Dia 13 de maio, na vila Tibério, o Bafo apanhou, decapa banner cinco a zero. Ave, Ave, Ave Maria!. Muito menos veremos os comercialinos pendurarem meias e sapatos velhos para irritar os "chulezudos" botafoguenses.
Não teremos (teremos?) empurra empurra e briga entre jogadores, ou um time saindo de campo antes do apito final, ou muito menos as mandingas como a dos patuás no calção de algum atacante.
Mas é dia de torcedor roer as unhas, de tensão até o fim do jogo e principalmente de casa cheia, com expectativa de pelo menos 20 mil pessoas na arquibancada, à moda antiga, como sempre deveria ser. Ribeirão Preto volta a respirar os ares do grande encontro.
Se nos últimos anos o Come-Fogo ficou banalizado pelos encontros para 2 mil testemunhas nas malfadas Copa Paulista, Copa FPF e na segunda divisão, o papo agora é diferente.
O Botafogo é o time do interior a ser batido, e que lidera um dos grupos, ocupando espaço de gente grande. O Comercial, tido como  azarão, quer embalar e se desgarrar da rabeira do campeonato. E  Benazzi, que já esteve lá como jogador, sabe que uma vitória na casa do Tricolor será como quebrar a banca. E porque não, a panca do rival. Será assunto para um ano todo.
Come-Fogo na primeira divisão é outra história. É jogo para mexer com milhares de corações. Os vovôs poderão ver um pouco do que já viram, e os jovens sentirão o sabor dessa rivalidade um tanto esquecida nos últimos anos.
E não é só a cidade quem festeja. O futebol paulista também agradece um Come-Fogo à moda antiga e à altura de sua tradição, afinal, esse Paulistão cada vez mais com  cara de Paulistinha, hoje terá um jogão no interior sem precisar do protagonismo dos quatro gigantes por essas bandas.
São 164 confrontos de 1920 a 2012. O Pantera venceu 60, o Leão 48, além de 56 empates.   Números que serão alterados nessa noite, mas que pouco importam diante do que reservarão o domingo e todos os outros dias do ano para o perdedor.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.