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Menon

Será que estamos sendo justos com Alexandre Pato?

Menon

14/03/2014 10h17

As entrevistas de Alexandre Pato são uma constante prestação de contas. E um grito desesperado para ser tratado pelo que é e não pelo que se determinou que ele seria.

Pato suplica que vejam o que ele está fazendo: "sou um dos primeiros a chegar e um dos últimos a sair", "estou trabalhando duro com meus companheiros", "fiz 17 gols em 62 jogos pelo Corinthians", "não marquei na estreia pelo São Paulo, mas estou satisfeito pela assistência que dei para o Osvaldo", "junto com meus companheiros, vamos melhorar", etc.

Nada do protagonismo de Zlatan Ibrahimovic, por exemplo e seu antológico "uma Copa sem mim, não merece ser vista".

Nada que um jogador promissor não diga. Mas Pato não é um jogador promissor, ele é um astro, um superstar. É mesmo? Ou a imprensa está esperando dele algo que ele nunca foi? Algo que ela mesmo criou? Os 17 gols no Corinthians foram pouco para quem começou tantas vezes na reserva? Mas o passado de Pato recomendava que se esperasse por 34 gols? Ou 51?

É normal que a Imprensa crie expectativas exageradas sobre alguém e depois passe a cobrar esse alguém por essas expectativas que ela mesma criou. Às vezes, ajudada por ações irresponsáveis de empresários. Lulinha é um exemplo.

Dagoberto é outro. Ele é um atacante de qualidade, sempre atuando pelos lados do campo. Desde o início da carreira, no Atlético-PR não coube a ele a tarefa de ser artilheiro. Mas, ao chegar no São Paulo, foi imediatamente batizado de Dagol.

De uma maneira festiva, mas séria, não de brincadeira como Ananiesta ou Ademilshow. E então, Dagoberto passou por um jejum. E muitos jornalistas passaram a dizer: "que Dagol é esse que não faz gols há tantos jogos"? Ora, mas não foi ele quem pediu esse apelido. Não foi ele que disse ser um matador como Romário. Ou Borges, seu companheiro de ataque.

É isso o que se repete com Pato. Criou-se uma expectativa exagerada a seu respeito desde que voltou ao Brasil, ele é cobrado por isso. E não pelo que ele realmente é.

Pato tem 105 gols marcados em 278 jogos, por Internacional, Milan, Corinthians, São Paulo, seleção brasileira e seleção olímpica. Isso significa que ele precisa de 26 jogos para fazer dez gols. A melhor média é no Milan, com 63 gols em 250 jogos. Ou seja, precisa de 24 jogos para fazer dez gols.

Esses números projetam 15 gols no Brasileiro, o que não o colocaria como um batalhador pela artilharia. Desde que o Brasileiro passou a ser disputado em ponto corridos, em 2003, o artilheiro menos produtivo foi Souza, do Goiás, com 17 gols.

Pato pode ser então, claramente o segundo artilheiro do time. Pode ser o escudeiro de Luís Fabiano. Não é ruim, mas não é o que a imprensa e a torcida esperam dele. Mas, baseado em quê mesmo? Não no que ele fez até hoje, e, muito menos no que ele faltou até hoje.

É possível entender as expectativas exageradas criadas pelos jornalistas. Pato sempre recebeu status de prodígio no Inter. Foi escondido de empresários. Foi inscrito no Mundial de Clubes, mesmo antes de haver estreado. E estreou, com 17 anos, fazendo gol no Palmeiras.

O Milan pagou 24 milhões de euros, a segunda maior transferência de um jogador brasileiro para a Europa. Ganhou a camisa 7 de Shevchenko, o grande ídolo.

Casou e descasou com Stephany Brito, atriz global, namorou com Bárbara Berlusconi, a filha do homem mais poderoso da Itália, e foi vítima de contusões sucessivas e terríveis.

Entre fevereiro de 2008 e janeiro de 2013, ficou 597 dias sem jogar. Quase dois anos.

E foi assim que chegou ao Corinthians: um jogador milionário, com salário milionário, com um currículo de conquistas femininas e status de gênio contundido, como Ronaldo. Mas, e não é apenas um detalhe, com poucos gols.

O grande trabalho médico o recuperou. E o que ele fez? 17 gols em 62 jogos. Ele precisou de 36 jogos em média, para fazer dez gols. Ate então, a média era de 24 jogos para dez gols.

Foi pior, mas é bom lembrar que Tite – corretamente – não lhe deu o posto de titular. Teve de enfrentar Romarinho, o herói da Bombonera, e Guerrero, o herói de Yokohama.

É hora de cobrar Pato pelo que ele mostrou até hoje e não pelo que, embalado por uma carreira precoce e pela necessidade midiática de se construir ídolos, passamos a exigir dele.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.