Topo

Menon

Dez ausências que deixam a Copa menos inteligente

Menon

25/03/2014 06h00

Os estádios estarão lotados, mas a grande maioria verá a Copa pela televisão. Ou "verá" pelo rádio. E debaterá o que viu e ouviu em infindáveis discussões em bares, no trabalho, na família. A comunicação esportiva tem, através dos tempos, os seus ídolos, seus mestres, seus gênios. Estou relembrando alguns aqui. E também humoristas, políticos e jogadores. É a minha lista. Qual é a sua?

OSMAR SANTOS – "Neymar, garotinho, Neymar, você que era um bebê no dia do tetra, você que que começava a chutar bola no penta, agora traz o hexa para o Brasil. Neymar, Neymar, fogo no boné do guarda, Neymar garotinho, esse país te ama. Esse país é hexa por sua causa, garotinho". Imagino assim uma narração de Osmar Santos para o hexa do Brasil. Que bobagem, imaginar Osmar Santos. Ele faria muito melhor, é claro. Ele sempre fazia melhor. Por isso, é incomparável. E ouça quem era o seu repórter em 1978. Um sujeito bem gordinho.

Gol de Dirceu contra o Peru, em 1978:
"Com ele, é bateu, valeu, chutou, guardou!"

O gol de Zico, aquele que não valeu, contra a Suécia,
em 1978: 
"O árbitro anulou o gol e apontou fim de jogo"

FIORI GIGLIOTTI – Meu amigo Gilmar Villanova Rodrigues (saudades, velho), lá de Aguaí, um dia me explicou porque Fiori era fundamental. Eu disse que o narrador estava cansado e atrasado. E ele respondeu: "Mas isso de estar em cima do lance é bom para quem esta no campo ou na televisão. Se você está só no rádio, o tempo é outro. O gostoso é ouvir aquelas coisas bonitas que ele fala". Fiori e Gilmar estão incrustados para sempre na ternura e sinceridade do meu cantinho de saudades.

A vitória do Brasil sobre a URSS, em 1982, com frango de Valdir Peres:
"O Valdir é gente como a gente. Uma bola fácil demais. Esse foi o pecado"

LUIS NORIEGA – Se Osmar animava um jogo, se Fiori romanceava um jogo, Luis Noriega apresentava o jogo. Com voz linda e sempre discreto, ele se comportava como um narrador do Oscar. Era como se dissesse: "você que está em casa, a bola está com Neymar, bom passe para Oscar, que tocou para Hulk. Pri-mei-ro gol do Brasil no Maracanã."

JOELMIR BETING – Sempre me frustrava com os comentários econômicos do Joelmir. Todo mundo dizia que ele facilitava o entendimento da economia e eu continuava boiando. Por isso é que ganhei milhões e não tenho nada guardado. Joelmir era fantástico, um cara que exalava inteligência. Fico imaginando ele em uma mesa redonda de final de noite falando de Copa. Suas metáforas seriam um bálsamo diante de tanta baixaria. E generoso como era, entenderia que Scolari escalasse Neymar e não Alan Kardec.

BUSSUNDA – Nunca fui muito fã dos Cassetas, preferia a linguagem impressa no Planeta Diário e Casseta Popular. Mas, que diferença com o que temos hoje. Bussunda, sempre irônico, é um lord comparado com o estilo Sherazade de Danilo Gentili, por exemplo. Bussunda alfinetava, tirava sarro, os de hoje estão sempre com um tacape a serviço do humor (?) truculento e sem limites.

JOÃO SALDANHA – Com ele não tinha essa conversa de recomposição lateral, losango com base alta, pirâmide invertida etc. Eu me lembro de um comentário dele quando o Brasil venceu a Iugoslávia por 4 a 2 em Recife, em 30/4/86, dois meses antes da Copa. Zico abriu o placar, a Iugoslávia virou, Zico fez mais dois e Careca completou. E o velho Saldanha falou. "Meus amigo, o Brasil ganhou por Zico se chamar Zico. Se Zico fosse Zicovic, a Iugoslávia ganharia". Genial.

Comentário após a derrota para a Itália, na Copa do Mundo de 1982:
"Como é agora? Campeão moral? De campeão moral eu já to cheio…"

NELSON MANDELA – Seria lindo que cada país tivesse uma referência como essa, um ser humano – mais que um dirigente – acima de contestações. Mas, aí seria fácil né? Mandela era assim porque era único.

BARBOSA – O grande goleiro negro, aos 93 anos, é ovacionado no Maracanã. O Brasil lava a alma e pede desculpas ao grande injustiçado, àquele que carregou a cruz pela derrota coletiva. Não vai dar. Barbosa morreu em 2000.

CARLOS SANTANA – Cláudia Leite e Pitbull (qem?) que me desculpem, mas a abertura da Copa de 94 teve Santana cantando Guajira e Oye como vá?

JORNAL DA TARDE – Não haverá títulos criativos, não haverá fotos abertas e não haverá a equipe formada por Vital Bataglia, Roberto Avallone, Mario Marinho, Castilho de Andrade, Sérgio Baklanos, Zé Eduardo de Carvalho, Savoia, Luis Antonio Prósperi, Cosme Rímoli e Luís Augusto Monaco, entre outros. Em um time assim, caberia a mim a cobertura de Honduras.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.