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Menon

Libertador corintiano, herói palmeirense

Menon

02/04/2014 06h09

Um dos grandes treinadores do futebol brasileiro vai ganhar um livro à sua altura. Oswaldo Brandão, campeão com Corinthians, Palmeiras, São Paulo, com a seleção brasileira, de sucesso fora do Brasil, tem seu perfil traçado pelo jornalista Maurício Noriega.

O lançamento seria dia 7 de abril a partir das 18h30 na Livraria Saraiva do Shopping Eldorado.fotocapabrandao

1) Você escreveu os 11 maiores técnicos. Brandão estava lá. Por que agora fazer um livro apenas sobre ele? 

R – Na verdade o projeto do livro do Brandão é anterior ao dos treinadores. Mas a logística e o interesse da editora terminaram por inverter a ordem do processo. Felizmente, deu tudo certo. Minha primeira ideia era fazer o livro do Brandão, mas o dos treinadores ganhou a dividida e ficou com a prioridade naquele momento, em 2009.

2) Quais são as revelações que esse livro traz? 

R – Algumas muito interessantes. A interferência e o interesse do governo dos militares na seleção em 1977 é uma delas. Também há esclarecimentos sobre a relação do Brandão com muitos jogadores, como o Gérson, o Leão, o César. As passagens dele pela Argentina e pelo Uruguai, as mágoas etc.

3) Qual foi o processo de construção do livro?

R – Pesquisa, entrevistas, checagem. Brandão morreu em 1989 e trabalhou como técnico de 1945 a 1986. Sem contar a carreira de jogador. Um período enorme. Muita gente já morreu, há períodos em que não existem mais arquivos, nem fontes de informação. Mas acredito que tenha sido possível traçar um perfil que faça quem o conheceu se lembrar dele e os que não o conheceram saber quem ele foi, sua importância e sua história. Eu optei pelo perfil depois de ler um livro excelente com esse formato, "Um Homem Chamado Maria", do Joaquim Ferreira dos Santos, sobre o Antônio Maria.

4)  Brandão era estrategista? 

Brandão tinha um extraordinário conhecimento intuitivo do futebol. Eu costumo dizer que ele tinha a sabedoria dos antigos. Aquela coisa dos nossos tios e avós, que sabem do tempo, das plantas, da vida muita coisa, mesmo sem ter conhecimento teórico sobre os temas. Brandão conhecia o futebol profundamente porque acompanhou a evolução do futebol, desde seus tempos de jogador, nos anos 1930. Ele sabia como poucos extrair o melhor de cada jogador.

5) Teria lugar no mundo de hoje?

R – Acho difícil. O futebol está muito empresarial, muito burocrático. Brandão era centralizador demais porque na época dele as coisas funcionavam assim. Ele foi um homem de seu tempo, embora tenha sabido se adaptar e trabalhar em grupo a partir dos anos 70, com o Maffia, o Teixeira, o Valdir de Morais. O futebol atual está mais perto do show business, e acho que o Brandão teria muitas dificuldade em se adaptar, assim como as pessoas que fazem o futebol de hoje teriam muita dificuldade em aceitar o estilo do Brandão.

6) Você fala de sua carreira internacional, Peñarol inclusive? 

R – Sim. Há um capítulo inteiro dedicado à conquista do título argentino de 1967 pelo Independiente, no qual Brandão conseguiu aquela que é até hoje a melhor campanha da história do futebol profissional na Argentina, com mais de 86% de aproveitamento. Também falo do Peñarol, onde ele teve muitos problemas com jogadores veteranos que eram ícones do clube, mas venceu uma Supercopa da Libertadores e foi vice da América.

7) Ele foi campeão pelo trio de ferro. Qual torcida o adora mais? 

R – Acho que palmeirenses e corintianos idolatram o Brandão de forma semelhante. Não tenho dúvidas em afirmar que ele é o maior treinador dos rivais. Ele foi muito mais ligado a esses clubes do que ao São Paulo, por exemplo. E também treinou o Santos, embora sem conquistas importantes.

8) Como foi para Brandão acompanhar a morte do filho. Ele já era espírita?

Há no livro um extenso capítulo sobre isso. Considero um dos pontos altos do livro. Todo o desenrolar do caso foi dramático, sofrido, mas também com grandes toques de humanidade e companheirismo. Brandão era espírita e sua família praticava a doutrina. Ele não se aproximou do espiritismo e da espiritualidade por causa da doença do Márcio. O filho, inclusive, era mais espiritualizado que o pai, e pesquisava muitas vertentes espiritualistas. A filha, Regina, fonte fundamental do livro, também é muito espiritualizada.

 9) Você que passou por algo parecido, sofreu muito em escrever essa parte do livro?

R – São situações e épocas diferentes. Isolei as questões pessoais o máximo possível, embora meu pai tenha sido muito amigo do Brandão e tenha me ajudado muito na produção do livro antes de falecer.

10) Qual treinador de hoje em dia se parece com Brandão? 

R – Talvez o Felipão, mas com muitas diferenças. Brandão era muito mais carismático. O Luxemburgo no começo tentava utilizar muitos métodos do Brandão, até porque ouvia muitas histórias contadas pelo Valdir de Morais. No livro há uma referência ao fato de que o Brandão considerava o Carlos Alberto Silva uma espécie de sucessor.

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.