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Nobre rompeu a palavra e tratou o Palmeiras como um mercadinho de esquina

Menon

27/04/2014 01h34

Paulo Nobre tinha todas as cartas na mão. Era uma renovação anunciada. O jogador queria ficar. O Palmeiras queria comprar. O Benfica queria vender. O Palmeiras acertou o preço com o Benfica. O Palmeiras ofereceu a cláusula de produtividade. Kardec aceitou. Faltava definir a parte fixa dos vencimentos. Houve uma negociação um pouco enrolada – só um pouco – e chegou-se ao valor de R$ 220 mil mensais.

Na hora de assinar, Paulo Nobre rompeu a palavra. Como estava certo com o Benfica, pensou que o jogador não teria para onde correr . E disse que só pagaria R$ 200 mil fixos. Imaginou que em cinco anos, economizaria R$ 1,2 milhão para o Palmeiras.

Então, tudo o que parecia sólido se desmanchou. O São Paulo ofereceu 4.5 milhões de euros ao Benfica, 500 mil euros a mais do que estava acertado com o Palmeiras. Nobre, então, se desesperou e igualou a oferta do rival. Detalhe: os 500 mil euros a mais correspondem a R$ 1,55 milhão. Aquela economia toda dos R$ 20 mil mensais já estava comprometida.

Mas o São Paulo também havia conversado com o pai de Kardec e oferecido mais de R$ 300 mil. Ou seja, ofereceu o que Kardec só ganharia se o Palmeiras cumprisse metas pré determinadas. E não era apenas dinheiro. Jogador gosta de ser bajulado. Todo ser humano gosta de ver promessas cumpridas. Acho que ele iria para o São Paulo mesmo se a oferta fosse a mesma.

Nobre não teve maleabilidade. Nobre não manteve o acordo. O excesso de remédio matou o doente. Se ele mantiver essa postura rígida, essa proposta de cláusula de produtividade – e eu acho que ela seria a solução para muitos times do Brasil – o Palmeiras será a segunda opção dos jogadores, pelo menos em relação a outros grandes do Brasil. O caminho escolhido parece ser esse: economizar tostões, sanear o clube e só isso. Títulos ficam para depois.

Não é o caminho correto. Em 2008, alguns executivos do Barcelona visitaram o Corinthians e trocaram experiências com Andrés Sanches. O Barcelona havia vivido uma crise imensa há alguns anos, como a que o Corinthians atravessava então. E o conselho dado foi o seguinte: pense nas finanças, mas nunca esqueça o futebol. Time forte traz auto estima à torcida. Faz o torcedor se transformar em parceiro, em cúmplice de um projeto. E isso significa dinheiro.

Pouco tempo depois, o Corinthians contratou Ronaldo. Ganhou títulos. Ganhou dinheiro.

Um clube de futebol gigante como o Palmeiras não pode ser tratado como um mercadinho de esquina. Não pode viver de coluna de débito < que coluna de crédito. Perder Kardec, que queria ficar, é muito diferente do que perder Barcos, que queria sair. A derrota agora foi imensa. O torcedor palmeirense será ironizado nas ruas e vai se sentir diminuído. Se o trabalho de Nobre precisa de continuidade para dar certo, ele passou a correr sérios riscos.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.