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Muricy (Campos Lara) e Mano (Maria Rosa), patinam entre o feijão e o sonho

Menon

22/05/2014 11h54

O Feijão e o Sonho, livro do escritor Orígenes Lessa, conta a estória do professor Campos Lara e sua mulher Maria Rosa. Ele não se contenta em ser professor, sonha com poesias como fonte de renda. Tem projetos mirabolantes e não consegue colocar os pés no chão. Perde alunos e só fica com os que não podem pagar. Maria Rosa fica em casa – o livro é de 1938 – tentando administrar a miséria. Há dias em que falta comida.

Um sonhador e um pragmático. Muricy e Mano. Na busca do sonho e na recusa em sonhar, os dois estão sendo superados pelas dificuldades.

Muricy sempre foi criticado pelo modo cru de ver o jogo. "Quer espetáculo, vá ao teatro", chegou a dizer. Com defesas sólidas, ganhou três título brasileiros seguidos, algo que muito provavelmente não será nunca igualado. Três zagueiros, combatividade no meio e bola parada. Jogadores como Jorge Vagner e Hugo alcançado status de imprescindíveis. Era o Muricybol, termo criado por que gostaria de ver títulos conquistados a partir do futebol mais vistoso.

E eis que surge um novo Muricy em 2014. Defende conceitos modernos como a impossibilidade de se jogar com volantes brucutus. Volantes são os novos laterais. Com os times se armando com três meias, o caminho pelos lados está fechado e cabe aos volantes avançar,, tratando bem a bola e chutando de fora da área. É também um Muricy pronto a escalar os melhores. Ganso virou ponta de lança, é OITO antigo, como Muricy foi, com mais brilho e mais velocidade. Pato e Ganso juntos. E ainda o Osvaldo e o Luís Fabiano.

Um time ofensivo e com volantes de toque, habilidosos. Souza, que poderia ser segundo volante, é primeiro. Maicon, que poderia ser meia, é segundo. Tudo muito ousado, muito sonhador, mas havia um Carlinhos pela frente.

O lateral do Fluminense foi o principal nome da vitória do clube carioca.

1) Teve uma postura ofensiva, como sempre.

2) Não foi acompanhado por Pato

3) Não foi combatido por Maicon ou Souza

4) Ficou frente a frente com Paulo Miranda, que fez uma partida horrível. Mais uma.

5) Cobertura foi de Lucão, ainda um garoto. Abalado pelo azar de um gol contra.

6) Carlinhos ainda teve  o apoio de Conca.

O primeiro tempo do São Paulo foi primoroso. Ganso foi espetacular. Foi um período de sonho, mas a realidade veio dura e cruel no segundo. Um pesadelo, com o time mostrando muitos espaços. Um erro tático, de posicionamento, agravado pela presença de três reservas na linha de quatro zagueiros. A fragilidade de um castelo de cartas.

O novo Muricy precisa dialogar um pouco com o velho Muricy. E dar um pouco mais  de segurança ao time. Hudson no lugar de Maicon? Auro? Rodrigo Caio no meio? Na lateral? São opções, mas ele é quem sempre soube montar times seguros. Quando fizer isso, o sonho não será interrompido.

Se Muricy é Campos Lara , Mano é Maria Rosa.

Não consegue sonhar. Está montando o Corinthians de forma conservadora, pensando o time a partir da defesa. Só que não está dando certo. Com Tite, o time recuava e segurava o resultado. Se estava 1 a 0, era certeza de vitória. Porque era um time conservador mas seguro. Não era vazado. Com Mano, não. O time joga atrás e é vulnerável. Foi assim contra a Chapecoense, Figueirense, Atlético-PR e Flamengo. Mesmo que não tenha sofrido muitos gol, permitiu chances muitas. Cássio salvou contra a Chapecoense, o Flamengo tinha um a menos e ameaçou, o Atlético quase virou, com uma bola na trave.

E contra o São Paulo, os microfones flagraram Mano gritando aos jogadores que seu time jogava por uma bola. Uma bola. É muita falta de sonho para um time gigante.

E, na frente, há a busca do encaixe. A palavra mágica dos treinadores brasileiros, movidos pelo empirismo. Vai você amanha. você fica no banco e não entra, hoje você é centralizado, amanha joga na ponta… São tentativas, mas não dá para jogar em casa com o Atlético-PR e utilizar apenas um atacante.

O time feijão de Mano se mostra tão vulnerável como o time sonho de Muricy. Esqueça os números de gols sofridos, veja as oportunidades cedidas. Elias pode dar jeito? Renato Augusto vai jogar bola? Entrar em campo? Lodeiro é melhor que Jadson? É melhor que Renato Augusto?

Ainda acho que os dois podem se arrumar e lutar por títulos.

PS – No livro O feijão e o sonho, depois de muito sofrimento, Campos Lara e Maria Rosa se acertam. Não ficam ricos, mas as contas melhoram. E tem um filho. Com sete, oito anos, começam a tentar descobrir qual será a profissão do garoto: médico, engenheiro? Até que ele chega em casa, vindo da escola, mostra uns versinhos e diz, com boca cheia, que será poeta.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.