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#136 Com Dunga, voltamos ao antigo milênio

Menon

20/07/2014 22h30

Caso se confirme a entrega da seleção a Dunga, a CBF volta ao segundo milênio. Ao finalzinho dele, a 1994. Sim, porque – por mais que gostemos ou não de seu primeiro trabalho na seleção e do que fez no Inter – Dunga está sendo convidado por haver levantado a taça do tetra e não por seus 123 jogos como treinador, com 78 vitórias, 30 empates e 15 derrotas, com aproveitamento de 71,54%.

 

Marin e Del Nero buscam símbolos e não soluções. Voltam ao passado e não planejam o futuro. Mesmo estando no fundo do poço. Quando demitiram Mano, Marin e Del Nero chamaram o técnico do tetra e o técnico do penta. Ou seja, transferiram responsabilidades. Não interessa se Parreira houvesse se tornado cada vez mais o maior representante do "falsobrilhantismo" no futebol. No esporte é Bernardinho, que mandou a seleção entregar um jogo. E Felipão? Depois de 2008, havia fracassado no Chesea, sei lá o que fez no Uzbequistão e levado o Palmeiras à beira do segundona. Deu errado? Mas olha o currículo dos dois que contratamos, dizem as múmias da CBF.

 

Deu errado? Chama o capitão do tetra. Não interessa que tenha levado um baile dos argentinos na Olimpíada de 2008. Não interessa que tenha caído nas quartas, sem ânimo para fazer a terceira substituição. Nada disso interessa. Ele é o homem que segurou Romário, ele é o capitão que não treme, ele é quem vai nos tirar do jejum, ele é o gaúcho macho.

 

São símbolos que interessam São arquétipos valorizados.

 

A CBF poderia ter sonhado alto e trazido um treinador que lutasse para colocar o futebol brasileiro na vanguarda. Que buscasse um time moderno, compacto, rápido, valorizando a técnica. Que buscasse um Schwensteiger. Um James Rodriguez. Laterais que marquem. Dá trabalho. É mais fácil naturalizar o Conca.

 

A CBF poderia ter sonhado em ser a Alemanha. Vai lutar para ser a Argentina de Sabella, com um grande poder de marcação, um time bem treinado e um craque na frente. Foi uma opção coerente quando pensamos em quem dirige a CBF

 

Bem, o que vai acontecer?

Se a receita se repetir, teremos

 

1 – Um grupo unido em torno do chefe. Nenhum pensamento divergente, nenhuma trca de opinião, nada disso. Apenas a união de nós contra todos.

2 – Para ser nós contra todos, é necessário criar inimigos. Delimita-los. Mesmo que não sejam. Aí, entram os jornalistas. Eles precisam ser torcedores. Não podem noticiar, não podem opinar.

3 – Serão privilegiados jogadores que tenham identidade com o grupo. Que morram pelas idéias do treinador. Mesmo que haja outros que joguem melhor

4 -O apoio no divino. Cada gol marcado deve ser em nome de Jesus. É necessário agradecer e louvar. Mesmo que tenha perdido por 7 a 1. Uma explicação: eu acharia errado também se cada gol servisse para pedir mais reforma agrária ou a paz mundial. Vamos jogar bola como quando crianças. Com sentido lúdico e não com hinos cantados com a garganta à vista

Em 2015, tem uma Copa América. Em 2016, tem outra. Tem Olimpíada e eliminatórias. Então, se tudo estiver errado, a CBF chamará outro símbolo.

 

Zagallo, talvez.

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.