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Menon

Fred, Miss Brasil, aparelho excretor, Hulk... Brasil, mesmo assim eu te amo

Menon

30/09/2014 10h25

O Brasil é contundente comigo. Não sou como você gostaria. Não sou quem você pensa que eu sou. Não sou a perfeição com que você sonha, ele grita a cada manhã. A cada entrada nos sites, a cada passada nas redes sociais ele faz questão de mostrar seu lado feio e preconceituoso.

As decepções com o Brasil arteiro, com o Brasil Pedro Malazartes vêm de forma seguida. Nem dá tempo de se recuperar do carequinha de bigode preto que usa a boca como aparelho excretor que vem a sofrida candidata verde tentando convencer o Hulk, que também é verde, a não lhe deixar só. Vamos da tragédia à comédia rapidamente. Continuamos com a tragicomédia de um idiota submetendo um pai de família à pantomina do falso sequestro com arma de mentira. Terrorista do PP, só aqui que tem. E vem aquele comediante escroto lamentando que a presidente não estivesse no hotel.

E, no dia seguinte, voltamos à tragédia da visão única, da tentativa de se impor aos outros a sua visão de mundo.  Muitos seres humanos deixaram de ler um livro, de beijar a namorada, de comer panetone ou spagheti com porpeta para dirigir-se ao computador, colocar sua senha em redes sociais para dizer que Melissa Gurgel, de 19 anos, é miss "cabeça chata".

Melissa, a nova Miss Brasil, é cearense. Linda. Tenho certeza absoluta que os ofensores nunca conseguiram uma namorada tão bela como a miss. Sinceramente, me perdoem a imagem, eu os imagino como garotos imberbes, cheios de acne, contumazes praticantes do amor solitário a gritar cearense maldita antes do êxtase.

Há tanto a se fazer no Brasil. E gasta-se energia para a ofensa, para a secessão. No debate de candidatos a vice no Rio Grande do Sul, o candidato do mesmo partido do baixinho homofóbico de cabelo pintado tinha no carro um adesivo dizendo O Sul é meu pais. País dele.

Mas, e o futebol? Este não é o blog de esportes? Também tivemos a vergonha de Aranha. E outras injúrias raciais de menor repercussão. É a parte trágica.

A comédia está nas vaias a Fred. Por onde o artilheiro anda, há vaias. Há perseguição. Como se o péssimo futebol mostrado por Fred durante a Copa fosse o principal motivo daquela vergonha futebolística.

E quem estava jogando mais que Fred? Diego Tardelli? Apenas ele.

O povo que vaia Fred se cala diante de Marin e del Nero. É capaz de, após ofender Fred, fazer um selfie com Ricado Teixeira.

Há a necessidade de se vaiar o igual. Tenho certeza que Fred, que não conheço, sofreu com a derrota da seleção tanto ou mais do que os que o estão vaiando. Muito mais do que Marin e Del Nero.

Fred é o elo mais fragil. Como o torcedor que o apupa.

Vaias ao mais fraco. Brancos chamando negros de macaco. Negros chamando Aranha de macaco. Homofobia e discurso de ódio em rede nacional, em debate para se escolher um presidente.

Ah, Brasil, você não presta mais eu te amo. Mesmo porque, com todos os seus defeitos, você é muito melhor do que eu.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.