Por um 2015 com mais Catuaba e menos David Luiz
O alagoano Catuaba fez sucesso no futebol aguaiano, envergando por mais de uma década a camisa 6 da Sociedade Esportiva Vila Braga. Não foi um Toró, um Leonardo Leão, um Dirceu Costa, mas nunca será esquecido. Como sempre serão lembrados Madô, Morcego, Pretinho, Zunga, Miro, Ciro, Cal, Géo, Carlos da Carolina, Marelo, Carlão do Ferreira, Tonho Foguete e tantos outros.
Em 2012, a Vila Braga completou 45 anos e Mexirica, filho de Carlos da Carolina, que também tem o apelido de Oreia, resolveu homenagear tantos craques. Fez uma camisa especial comemorativa, personalizada. Catuaba se emocionou ao receber a sua, com nome e número gravados, agradeceu e….nunca usou. O motivo, tem a ver com o início da Vila Braga.
Apesar do nome remeter ao Palmeiras (sociedade esportiva), seus fundadores eram majoritariamente corintianos e são-paulinos. Decidiu-se, então, que as cores seriam o preto e o branco e que o escudo seria uma réplica daquele que mora na camisa tricolor. Com o tempo, a Vila Braga ficou marcada por um viés mais corintiano. Sua entrada em campo sempre foi saudada por uma fanática e fiel torcida, vinda da escola de samba do Ferreira, e o clube passou por um longo jejum. Só seria campeão nos anos 90, quando Dirceu Costa, depois de brilhar no Bangu e Curtume, passou pela Vila.
Catuaba, ao contrário de Dirceu, é são-paulino fanático. "Sempre honrei a Vila Braga, mas agora não preciso mais usar camisa que lembra o inimigo. Sou são-paulino e só uso a do meu time", disse ao filho Leandro José, também são-paulino, mas menos radical. No Ceará, onde trabalha, muitos perguntam quem é o Catuaba que está escrito na camisa que ele usa.
A Lei Pelé, que brilhantemente terminou com a Lei do Passe, não previu o efeito colateral. Os jogadores são fatiados e grossas fatias pertencem a empresários. Para eles, não existe amor ao clube, como o de Catuaba à Vila e ao São Paulo. É comum ouvi-los dizer frases do tipo. "Está na hora do Vandercleyssson buscar novos caminhos". Como assim, se há um contrato em vigor por mais três anos. Não interessa. "Quando o jogador quer sair, não há quem segure", nos ensinou Ronaldo, o grande artilheiro. Amor? Nem pensar? Ética? O que é isso?
São modernidades, inexistentes no tempo de Catuaba. Ele e ninguém da Vila Braga aceitaria a entrada conjunta em campo, como prega o futebol moderno. Todos queriam ouvir a sua torcida, a mais vibrante, fazer a festa. Entrar junto em campo, como bailarinos. Ouvir apenas um canto da torcida, pois a ineficiência estatal impede arquibancadas divididas, ter fair-play, são coisas que não gosto no futebol de hoje. Cabe o árbitro parar o jogo, caso considere que alguém necessita de cuidados médicos. Não cabe ao jogador abandonar o gol apenas porque o adversário está caído.
Tudo isso é frescura da Fifa, que não consegue impedir o regime de semiescravidão de trabalhadores que constroem arenas (arghhhh) para a Copa do Catar. Para a mesma Fifa que não toma atitudes rígidas quanto ao racismo.
E o David Luiz, o que tem a ver com o Catuaba? Seria mercenário? Seria pior? Não, a comparação é porque Catuaba nunca fez careta. Os atacantes que enfrentava, sim. E porque Catuaba nunca cabeceou uma bola que ia para fora em direção à sua área. Nunca. É básico.
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