Topo

Menon

São Silvestre é só um retrato pendurado na parede

Menon

31/12/2014 15h01

FELIZ 2015 A TODOS, COM UM POST DO FINALZINHO DE 2013

 

 

A mesa era grande, a ceia era farta e a bagunça, enorme. Avô, avó, peru, três filhos, leitoa, duas noras, farofa, duas filhas, lombo, dois genros, cabrito, 21 netos, frango recheado, pai e tio perpetuando o ritual de copos quebrados após o brinde, cabrito, Antonio brigando para ir à mesa dos grandes, cassata, Maria Lia ensinando tuíste, torta paulista, adeus ano velho, feliz ano novo, que tudo se realize no ano que vai nascer, muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender, sempre puxada pela voz da Ana Dalva, abraços, beijos, e São Silvestre, é lógico.

Para uns, eu era o fujão. Para outros, rebelde. Não interessa, todo ano deixava a festa na sala de jantar e corria para a frente da TV preto e branco. Era São Silvestre. Para meu avô, o anfitrião, eu servia de informante. Como está o alemão?. Vai mais ou menos eu respondia. É por causa do calor, se fosse com tempo bom, alemão ganhava sempre, retrucava. O pai do meu avô era alemão. E a família gosta de exaltar essa ascendência, apesar de minha avó, bem morena, ser considerada negra em qualquer país do mundo não africano. Olho no espelho e vejo um sujeito de nariz grande, meio árabe. Ou italiano, do Sul. Nada de alemão.

A São Silvestre nunca teve um alemão vencedor, mas teve grandes campeões, como Gaston Roelants, Frank Shorter, Paul Tergat e outros que se tornaram grandes apenas por vencer a São Silvestre: Rolando Vera, Victor Mora, Rafael Tadeo Palomares…. Você só vai conquistar essa menina quando o Papa vier ao Brasil, aquele lá só entra na faculdade quando Frank Sinatra cantar no Brasil e o seu time só vai ganhar o campeonato quando um brasileiro ganhar a São Silvestre. Não sei a ordem em que os tabus caíram, mas José João da Silva entrou na história vencendo a corrida em 1980. Todo brasileiro entrou feliz m 1981, apesar da ditadura. Viva José João, viva João da Mata, viva Ronaldinho, adeus São Silvestre.

Hoje, a corrida ainda é maravilhosa, com aqueles malucos correndo e correndo, desafiando seus limites. O povo vai à rua, mas a verdade é que o charme acabou. Saiu da noite foi para a tarde, saiu da tarde e foi para a manhã. É apenas uma atração a mais da grade da Globo. A Globo não cobre um evento. Ela compra e aprisiona em sua grade. É assim com o futebol às 22 horas. O juiz só apita quando a novela acaba. É assim com o Carnaval, é assim com tudo.

Lembram do João qualquer coisa – ainda bem que esqueci o nome – que ensinava como comemorar um gol? Faz três pode pedir música no Fantástico. Jogador está saindo no intervalo, nervoso porque está perdendo o jogo e tem de parar para, através do repórter, dar a camisa para uma cantora desconhecida que a Globo levou para se sentar ao lado de Arlindo Cruz. Do grande Arlindo Cruz. E tome close na dupla, o jogo todo. Pelo menos, a Globo ainda não se rendeu ao rétitrique

Vou acordar tarde e nem vou ver a São Silvestre. Ninguém fala nela. O assunto é a canela quebrada do Anderson Silva. Que troca ridícula, o charme de uma corrida popular pelo mais violento de todos os esportes. Não há, pelo menos para mim, mais São Silvestre. A vida é assim. Também não há mais ceia farta, mesa grande, algaravia, Adolfo, Geni, Luiz Carlos, Myrian, Virgílio, Henrique e Alamir.

FELIZ 2014 A TODOS

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.