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Menon

Romário fez um texto preciso e emocionante. Faço tabelinha com ele

Menon

07/02/2015 12h26

Quem aí é igual? O que é ser perfeito? O que nos torna diferente do outro?

Essas perguntas podem ter muitas respostas. Eu tenho seis filhos, para mim, todos eles são diferentes: cor, altura, personalidade, deficiência… mas todos são igualmente perfeitos.Faço esta reflexão porque, nos últimos dias, recebi uma avalanche de mensagens com alertas sobre a jornalista Silvia Pilz, do O Globo, que esc…reve textos altamente preconceituosos sobre pessoas com deficiência, negros e pobres.

Em um dos textos, intitulado "Cacoete", ela escreveu:

"Chegamos em Salamanca e nos deparamos com um enxame de crianças com síndrome de Down circulando pelas ruas. Parecia um pesadelo, mas era só um grupo de crianças especiais conhecendo a cidade."

E continua, após alguns parágrafos:

"Será que o enxame de crianças com síndrome de Down ainda está por aqui? Eles devem ter alguma coisa para nos ensinar. Vejo sempre relatos de pais emocionados, como se fossem abençoados. Deus, como temos dificuldade em assumir fardos!"

Peço desculpas por fazer vocês lerem isso. Talvez, assim como eu, já estejam sentindo um embrulho no estômago. Mas acreditem, ela não parou por aí. E disse em outro texto:

"Todo mundo quer ser branco e ter olhos claros. Negras alisam cabelos, pais e mães, quando resolvem adotar bebês, vão pro Sul do país. Se bem que os mini-afrodescendentes estão em alta. Simbolizam o "eu não tenho preconceito", porque o que acontece em Hollywood, depois de um tempinho, acontece aqui. Parece uma espécie de campanha na qual quem adotar o mais feio garante seu lugar no céu".

Em outro trecho ela afirma que "gostaria de voltar pro mundo onde anões eram chamados de anões e não de pessoas verticalmente prejudicadas".

Talvez aí esteja o cerne do problema da jornalista. Ela vive em um tempo que não lhe cabe mais. Prova disso foi a avalanche de protestos contra suas palavras. Já vivemos um tempo em que pessoas eram escravizadas pela cor da pele, por disputas territoriais ou guerras. Neste mesmo tempo, crianças nascidas com deficiência não tinham vez, eram abandonadas, doadas, escondidas. Anões (sim, eles continuam sendo chamados assim) eram expostos em feiras de bizarrices. E tudo isso era considerado normal. Este tempo passou. Não de uma hora para outra, mas à medida que a consciência das pessoas despertou para a diversidade do nosso mundo. À medida que o alcance e a velocidade da nossa comunicação se ampliaram para muito além das fronteiras. À medida que muitas pessoas gritaram e se ergueram contra as injustiças.

Vejo este grito por mudança se erguendo novamente. Agora contra pessoas que pensam como você, que acham que existem pessoas perfeitas e outras consideradas "fardos". Assim como acha que todos querem ser brancos de olhos claros. Ou mesmo que se assustam com um anão ou sentem desconforto na presença de crianças com síndrome de Down. Você realmente vive no tempo errado, no meu tempo, 45 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência. Algo como 24% da população. Estranho mesmo é não enxergar essas pessoas à sua volta, a ponto de, quando vê-las, sentir desconforto. Mas suas palavras são apenas tolices de uma pessoa com uma visão de mundo bastante limitada. Sou a favor da liberdade de expressão, mas lamento um veículo como o jornal O Globo dispor de valioso espaço para um jornalista ofender cidadãos brasileiros.

Fica aqui o meu repúdio.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.