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Menon

Tite é o melhor da classe. Mas também não é santo.

Menon

21/03/2015 11h33

O que eu acho de Tite?

É o melhor treinador do Brasil. Seu trabalho no Corinthians é fenomenal. O time está jogando muito melhor do que no ano passado. E, para sermos justos com Mano, está jogando muito melhor também do que em 2013, quando o mesmo Tite estava por lá.

Além de o time melhorar muito como conjunto, o ganho individual é enorme.  A ascensão de Fagner é concreta. Elias voltou a jogar muito bem e é o melhor jogador em atividade na Terra de Santa Cruz.

Tite não é um revolucionário. Não criou um novo estilo de jogo, ainda é muito cuidadoso e não se vê, por exemplo, Fagner e Fábio Santos atacando ao mesmo tempo. Uma variante que Telê tinha no São Paulo há quase 30 anos, com Cafu e André Luíz. Ou Vitor e André Luiz.

Mas, se não é revolucionário, é totalmente contemporâneo. Seu time joga de acordo com as premissas atuais: compactação, recomposição, intensidade, velocidade e, para homenageá-lo, verticalidade.

O que eu acho de Tite fora de campo?

Não deveria ser da conta de ninguém. O jornalista deve julgar um treinador e um jogador  apenas por seus méritos táticos, emocionais, técnicos, físicos, psicológicos e por títulos conquistados. São itens possíveis de analisar e mensurar. Nâo são subjetivos.

Ao se dar o direito de analisar publicamente pessoas do futebol por atos fora do futebol, o jornalista entra por um caminho sinuoso. Primeiro, porque não tem direito. E nem é pago para isso. Em segundo, porque os parâmetros são voláteis.

Vejamos as manifestações da ultima semana. Quem foi no ato do dia 13 se julga um patriota, pronto a defender a legalidade. Os que foram no dia 15, pensam que eles são cúmplices de descalabro financeiro que assolou a Petrobrás. Quem foi no ato do dia 15 se julga um defensor da Pátria diante do comunismo e da corrupção. Os que foram no dia 13, pensam que são analfabetos políticos e golpistas.

Então, falemos em nossas análises apenas de futebol. Fora delas, de tudo. Tudo mesmo. Como é bom ter informação para poder dar opinião sobre agulhas e aviões.

Tudo isso para dizer que acho exagerado um movimento de se tratar Tite como um ser humano especial, um rei da ética, um cidadão exemplar. Assim como Jor-El, filho de Kal-El, também conhecido como Clark Kent. E eu digo que não é. E dou exemplos.

1) Tite, quando dirigia no Sul, mandou seu auxiliar técnico ira o Parque São Jorge, disfarçado, para analisar o treino de Vanderlei Luxemburgo. Luxa descobriu e fez um grande escândalo. E se fosse o contrário?

2) Tite, quando Neymar deu um chapéu em Chicão, com a bola fora de jogo e depois fez falta feia em Guilherme,  lateral corintiano, disse que Neymar não era exemplo para seu filho.  Gostaria de saber se Tite não o convocaria para a seleção. Uma ou outra rodada depois, Paulo André, o capitão corintiano fingiu ter recebido uma falta. Pediu desculpas. E Tite, nada.

3) Tite nunca questionou Sheik, eticamente falando. Nada sobre as acusações de contrabando de Mercedez. Tite apoiou Marcelinho em sua candidatura a deputado. Gravou um vídeo. Quando foi ao ar, disse que não era para ter ido. Por que gravou?

PS – Há muitos anos, vi no Gigeto, um grande treinador e seu preparador de goleiros, já velhinhos, jantando com duas senhoras de um loiro oxigenado e que não eram suas esposas. Eu estava com um amigo. Quando nos viram, as mãos enlaçadas se soltaram. O constrangimento foi enorme e desnecessário. Não tenho nada com aquilo. Não é da minha conta. Se Luxemburgo deve e não paga a Edmundo, não é da minha conta. Só não faço negócios com ele. Se Tite apoia Marcelinho e não se manifesta sobre o Bom Senso F.C não é da minha conta.

Só não gosto de anjos e demônios.  Tite é um ser humano que pode falhar. Como todos. E meu trabalho é dizer que ele e grande treinador. Mas como eu detesto uma unanimidade e detesto ainda mais as hagiografias, ficam aqui as minhas dúvidas sobre Sua Santidade Tite.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.