PM e Globo querem mandar no futebol
Duas matérias aqui do UOL causariam muita estranheza em outros países. Países mais conservadores em que cada entidade cumpre a sua obrigação e apenas ela. A PM é responsável pela segurança dos estádios. E dos torcedores, muitas vezes tratados como inimigo. E a Globo deve transmitir jogos. A PM é paga para dar segurança. A Globo paga para transmitir. Simples, não é?
Aqui, não, como mostraram o Bernardo Gentile e o Vagner Magalhães, repórteres aqui do UOL. O Bernardo conta que a emissora de televisão se irritou com a decisão do Botafogo, que escalou reservas para enfrentar o Capivariano na Copa do Brasil. Decisão que se mostrou correta, pois o time venceu os dois jogos. Preocupada com a audiência cadente, a rede de televisão queria que os titulares entrassem em campo.
Querer, pode. Tanta gente quer tanta coisa impossível. A Globo não pode definir quem joga. Mesmo que empreste dinheiro e adiante cotas a associações mambembes. Já não é suficiente que o futebol só comece depois do final da novela? O Botafogo também é um alvo frágil. Seu ex-presidente, Maurício Assumpção, quando do processo de ruína do Clube dos 13, portou-se como um serviçal da rede e não do clube. Disse que seria melhor continuar com a Globo, mesmo que fosse receber menos dinheiro do que na Rede TV.
A história contada pelo Vagner Magalhães é triste. Heraldo, um sergipano torcedor do São Paulo desde 1988, resolveu deixar de ser anônimo. No peito, sempre descoberto, pinta o escudo do time. É a sua paixão. É a sua decisão. E ela foi desrespeitada. A PM impediu que ele entrasse no jogo com o símbolo no peito. Decidiu porque quis. Porque sim. E acabou.
Heraldo tentou argumentar e não convenceu os policiais. E num gesto de resistência passiva, resolveu deixar o jogo. Não viu seu time, pela primeira vez em muitos anos. Saiu de cabeça alta do processo.
Ah, como seria bom se cada um fizesse seu papel. O técnico escalasse o time, a tv transmitisse e o torcedor, que optasse pela ida ao estádio tivesse proteção para expressar a paixão, pela forma que fosse.
Fácil, não?
Não.
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