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Neymar rasga a Bíblia dos botinudos e perebas

Menon

02/06/2015 10h26

A carretilha ou lambreta de Neymar sobre o beque do Bilbao trouxe à tona novamente algo muito estranho no futebol: a Bíblia dos Botinudos. É uma série de regras que tenta normatizar o futebol. Alguns de seus cânones:

1) Só pode driblar desnecessariamente quando o jogo estiver 0 x 0.

2) Só pode driblar em direção ao gol.

3) Não se pode humilhar o adversário

Não está escrito em lugar nenhum. Mas está sempre nas bocas de goleiros, zagueiros e volantes. Serve para justificar pontapés e agressões.

O interessante é que, no caso do jogo contra o Bilbao, Neymar não desrespeitou o item 2. Se ele passasse pelo zagueiro, ficaria dentro da área, na cara do goleiro. Poderia ter feito um gol genial, marcante, imorredouro através dos séculos. Foi ameaçado e ofendido por ser genial.

O conjunto de regras não escritas, que formam uma espécie de código do boleiro, não pode substituir as regras do futebol. Lá, não há nada que proíba carretilha, lambreta, rolinho, vão de perna, chilena, drible da vaca, chapéu, sombrera, touca….

Se drible não fosse bom, não tinha nome. Desarme tem nome? Desarme faltoso tem nome? Não. Pode chamar de porrada, mesmo.

Um drible como o de Neymar, mesmo que não resulte em gol, traz vantagens para seu time. O adversário fica nervoso, fica exaltado, bate e pode ser expulso. Um árbitro poderia expulsar o zagueiro do Bilbao. E outros companheiros. Eu consideraria injusto, porque não houve porrada, mas que poderia, poderia.

Então, em nome de quê se critica a carretilha de Neymar?

Em nome de uma suposta ética no futebol. Não se pode humilhar alguém. É preciso ser generoso com o rival, é preciso ser nobre quando se está vencendo.

É uma tese. Mas eu prefiro ver falta de nobreza em quem finge uma falta, em quem ofende um companheiro, em quem rouba o povo, como os cartolas estão fazendo.

Não são todos, mas é possível ver pessoas que acham errado o drible de Neymar e jogam atitudes racistas na vala do "o que acontece no campo, fica no campo".

Amigos, alguém sabe o nome do zagueiro do Bilbao, que levou a carretilha? Pouca gente sabe. Inclusive, o aposto acompanhará a figura por muito tempo. Será conhecido por Fulano, que levou a carretilha de Neymar. Nem levou, mas ficará assim chamado. Talvez até seja bom zagueiro, mas perdeu o direito de ter um nome.

Quanto a mim, não o critico. A humilhação leva a uma reação. Dar um pontapé em resposta a uma carretilha é normal. Cabe ao juiz responder e punir.

Em 1997, fui jogar no gol em um campeonato interno do Lance! Meu time tinha o Maurício Noriega e Gonçalo Jr, um dos grandes textos lá do Estadão. O Adriano Ceolin era um dos focas do Lance! Fingiu que ia chutar, eu caí  e ele tocou por cima. Foi um golaço. Ele olhou para mim e deu um sorriso irônico, como O Adriano Ceolin era um dos focas do Lance! Fingiu que ia chutar, eu caí  e ele tocou por cima. Foi um golaço. Ele olhou para mim e deu um sorriso irônico, como quem diz 'vai buscar la dentro". Eu fui. Busquei, fui atrás dele, chamei e joguei a bola na cara dele.

Sou pereba, sempre fui. Sou botinudo, nunca fui o penúltimo a ser escolhido em um par ou impar.

O que eu não sou é da Corporação dos Perebas. Não sou solidário à classe. Mesmo porque, sempre quis ser Neymar, Garrincha, Canhoteiro…..

Nunca quis ser o pereba que fui.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.