Zito e as almofadas da sala da casa da minha avó
A primeira lembrança que tenho do futebol é de quando, com quatro anos, na sala do meu avô materno, recitava o poderoso ataque do time de meu pai, recém campeão paulista.
A segunda é Zito. Há quase 53 anos. Foi em 17 de junho de 1962. O Brasil disputava a final da Copa do Mundo do Chile. O jogo estava empatado. A Tchecoslováquia havia feito primeiro, aos 15 minutos, com Masopust. Dois minutos depois, Amarildo empatou. E, no segundo tempo, aos 24 minutos, o narrador – muito provavelmente Edson Leite – narrou a escapada de Zito, seu passe e a conclusão, de cabeça. O Brasil fez 2 a 1. Ainda faria o terceiro, com Vavá.
O gol de Zito foi comemorado pelo menino gordo com uma bagunça incrível. Almofadas foram jogadas para o alto, junto a gritos solitários. Estava sozinho na sala. E, sozinho, fui obrigado a pegar tudo e a colocar no lugar correto.
Muitos anos depois, vi Zito na Vila. Estávamos no mesmo elevador. O Santos iria fazer um jogo contra o Boca, pela Libertadores, e ele se irritou com alguns prognósticos que depois se confirmariam. "Chegamos ao ponto de ter medo de Barros Schelotto, é isso? Não dá para ter medo de Barros Schelotto".
Com a morte de Zito, da seleção titular de 58 estão vivos apenas Pelé e Zagallo. De 62, os dois e mais Amarildo.
Em 2001, eu o entrevistei para o livro "Os donos do mundo", que escrevi com o grande amigo Rubens Leme da Costa. Abaixo, um resumo.
"Comecei a jogar em Taubaté e um delegado de polícia, dr Maneco me indicou para o Santos. Cheguei em 1952, com 20 anos. (….) Em 57, disputei o sul-americano de Lima e consegui uma vaga para a Copa. Era reserva de Dino Sani, muito diferente de mim. Ele era clássico, técnico e não corria muito. Eu tinha mais raça, movimentação, mas não era como o pessoal de hoje, que dá muita pancada. Sabia meter uma bola, chegava ao ataque, arriscava um pouco e surpreendia os adversários. Estreei no terceiro jogo, contra a Rússia. Foi um jogo lindo, o Garrincha fez uma festa, deu tantos dribles, ninguém acreditava naquilo. Foi tranquilo ganhar o Mundial.
Em 62 estávamos mais velhos, perdemos o Pelé, todo mundo sentiu um frio na barriga, mas o Amarildo deu conta do recado.
A final foi contra a Tchecoslováquia, que tinha o Masopust, um grande jogador, mas a gente sabia como vencer. Fiz um gol na final, foi maravilhoso. Ganhei uma bola no meio-campo e toquei para o Zagallo, que estava recuado. Ele tocou para o Amarildo na esquerda e eu fui correndo para o gol deles. O lateral veio para cima de mim, mas desistiu porque o Garrincha estava por ali. O cruzamento do Amarildo foi ótimo e completei de cabeça".
Foi em Santiago. Igualzinho como eu ouvi no rádio da minha avó, na Major Braga, em Aguaí.
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