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Menon

7000 a 1. E o choro de Chico Silva e do amigo paraguaio

Menon

08/07/2015 15h19

O tsunami do 7 a 1 me pegou em Itaquera e não no Mineirão. Estava na sala de imprensa do Itaquerão, me preparando para as entrevistas coletivas de Alejandro Sabella e Louis van Gaal, treinadores de Argentina e Holanda, que se enfrentariam no dia seguinte.

Estava perto de uma televisão – havia muitas na belíssima sala de imprensa – em frente ao amigo Chico Silva, um dos mais criativos jornalistas com quem tive a honra de trabalhar. Chico é ligado em 1000 volts e sua voz chega a milhões de decibéis. E como fala…. É um entusiasmado pelo trabalho e curtia, como nunca, sua primeira Copa. Esteve muito perto de cobrir as duas anteriores, mas ficou de fora pelas injustiças da profissão.

Na bancada ao lado, estavam quatro paraguaios de uma rádio que não sei o nome. Em frente à televisão, narravam "ao vivo", diretamente do Mineirão para Assunção. Nada de novo. Já fiz muita rádio brasileira fazer isso. Quando saí para comprar um refrigerante, ele me pegou pelo braço e perguntou o que eu esperava do jogo.

Respondi o que havia escrito aqui no UOL. O Brasil tinha problemas, mas eu não via um favorito. Teríamos um jogo, apesar da ausência de Neymar. E lembrei que os alemães haviam empatado com Gana. E falei da minha preocupação com a escalação de Bernard. Preferia um time mais compacto, com mais gente no meio campo.

E começou a escalada de gols. O amigo paraguaio me olhava e, com desespero, me chamou para falar na rádio. Que passa, gritava ele? Como se eu tivesse uma explicação. Como se eu fosse o culpado. Não consegui entender nada. Chico Silva, que adora dizer que é cabra macho de Pernambuco, caiu no choro. "O que é isso, gordinho, o que é isso? Acabou nosso futebol"?

Depois, Chico Silva foi gastar um portunhol na rádio. Gritou verguenza várias vezes e chorou, juntamente com o paraguaio.

Também fiquei muito triste. O futebol é uma expressão cultural de meu país. É algo admirado em todo o mundo. Tudo começou há mais de 50 anos. Uma história de títulos e de magia. Algo capaz de fazer um paraguaio sofrer. Eu me lembrei, na hora, de uma cobertura que fiz no Equador, em 1993.

Minha primeira Copa América.  A sede do Brasil era em Cuenca, uma cidade serrana muito bonita, cortada por três rios. Em um dos jogos, nem me lembro qual, um senhor perguntou se eu era brasileiro. Disse que sim e ele começou a gritar, de forma alucinada. "Por que o Junior não saiu e deixou Paolo Rossi impedido? Por que Cerezo errou o passe. Injustiça, injustiça". Ele falava de Sarriá, é lógico. Depois me contou que, desde 1970 ia aos Mundiais para acompanhar o Brasil. Já estava se preparando para 94, nos Estados Unidos.

Um ano se passou da comédia que foi o 7 a 1.

O que foi feito para mudar?

A CBF deveria ter feito um grande seminário com treinadores, jornalistas, jogadores e torcedores. Deveria ter traçado um projeto modernizador, com metas definidas.

Nada disso. Já havia amistosos programados. Era preciso fornecer carne fresca a quem compra.

Dunga, que havia dirigido a seleção na Copa de 2010, voltou.

Que bom trabalho ele havia apresentado após a Copa da África do Sul?

Que curso havia feito?

Como havia melhorado seu currículo?

Nada. Era o mesmo Dunga, com seus defeitos e qualidades.

Foram mantidos muitos jogadores dos 7 a 1, inclusive a dupla Thiago Silva e David Luiz.

O que mais?

O ex-presidente, notório gatuno, está no xilindró, tomando café de canequinha.

Novo vexame na Copa América, um ano depois. O Brasil continua sem ter um esquema coletivo, continua dependendo da genialidade de Neymar.

Treinadores como Leão, Candinho e outros foram chamados para dar novas ideias à seleção.

Criaram um grupo de whatsapp.

Nada mudou.

A não ser o meu amigo paraguaio, que deve ter sorrido muito na Copa América, quando sua seleção, pela segunda vez seguida, eliminou o Brasil.

Ele, ao menos, riu.

Chico Silva deve ter chorado uma vez mais

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.