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O dia em que falei com Ghiggia, nosso carrasco, que agora descansa em paz

Menon

16/07/2015 21h15

ghiggia 001É uma injustiça dizer que Ghiggia foi o nosso carrasco em 1950. Foi muito mais que isso. Foi o grande atacante daquela Copa, fazendo um gol por jogo. Aos 23 anos, havia sido lançado no ano anterior no Peñarol que se tornou eterno no futebol uruguaio. O Peñarol de 1949, de Flavio Pereira Natero (Roque Máspoli), Enrique Hugo, Mirto Davoine (Sixto Posamai), Juan C.González, Obdúlio Varela, Washington Ortuño, Alcides Ghiggia, Juan Eduardo Hohberg, Juan Schiaffino, Oscar Míguez e Ernesto Vidal.

Era o ataque titular de 1950, com Julio Peres no lugar de Hohberg, argentino cujo processo de naturalização não havia ficado pronto. Ghiggia havia ganho o lugar de Julio Britos. O mesmo se repetiu na seleção uruguaia no ano seguinte, 70 dias antes do início do Mundial.

Em 2001, eu o entrevistei em Monevidéu, para o Livro "Os Donos do Mundo", que escrevi em parceria com o amigo Rubens Leme da Costa. O seu depoimento sobre a Copa foi o seguinte.

"O Brasil era uma grande equipe, que havia chegado à final com algumas goleadas, mas era um time que a gente conhecia bem. Não tivemos pressa, ficamos atrás, esperando para ver o que poderia acontecer. Eu fiz minha melhor partida pela seleção uruguais. O jogo foi todo pelo meu lado, quase não atacamos pela esquerda. No primeiro tempo, o Bigode me travou duas vezes, depois ganhei todas, driblando ou aproveitando lançamentos de Julio Peres.

"No primeiro gol, cruzei para trás e o Schiaffino marcou. No segundo, resolvi chutar e deu certo. O Barbosa não teve culpa. Era um grande goleiro e deve ser lembrado como um ídolo. Teve um dirigente uruguaio que chamou a gente e disse que não precisávamos ganhar porque já tínhamos chegado na final. O Obdulio mandou ele sair, chamou a gente e gritou que só seríamos bons se ganhássemos o título.

"Ele não bateu no Bigode, não bateu em ninguém. Fez o de sempre. Era um homem respeitador, um líder, o nosso capitão. Eu comemorei muito o título, mas só depois de muito tempo é que percebi que aquele tinha sido um dos grandes momentos do futebol mundial".

Em 2009, no estádio Centenário, tirei esta foto com ele.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.