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Tite sobra na turma. Grande Área vai pelo mesmo caminho

Menon

04/11/2015 06h27

Estive no Museu do Futebol para o lançamento do livro Mourinho Rockstar, do jornalista português Luis Aguillar. Um trabalho muito bom da Editora Grande Área, da irmã da Mônica, que é casada com o Gusto Henrique, meu primo. Ou seja, Aguaí está na área, disseminando conhecimento.

No lançamento, houve uma mesa de debate, com Paulo Vinícius Coelho, André Kfouri e Tite.

Quem me acompanha por aqui, sabe que eu não gosto de seguir a banda dos contentes. Não gosto de hagiografia, de tratar uma pessoa viva como se fosse um anjo enviado dos céus, como se tivesse nascido perfeito e morrido perfeito. Ou seja, não evoluiu.

E eu tenho essa desconfiança em relação ao Tite. O jeito de falar – preconceito meu – a mania de colocar qualquer coisa em um plano épico. Como cobrar um lateral na área adversária, por exemplo. Se Tite fala sobre isso, parece a reinvenção do futebol.

Posto isso, dou o braço a torcer. Tite esta muito acima dos outros treinadores. Muito bem informado, antenado com as novidades e pronto para fazer times vencedores.

Um resumo do que vi.

Uma história que não gosto no Tite foi o fato de ele haver mandado há alguns anos o seu auxiliar Cleber Xavier espionar um treino do Corinthians, seu rival de então, às vésperas de uma decisão. Perguntei se era ético.

"O treino era aberto e ele foi lá. Não vejo problema algum. Seria antiético se fosse um treino fechado".

Não gostei da resposta. Tenho dúvidas. Tanto que Xavier foi disfarçado ao treino, com boné e boné.

Outros pontos que ele tratou.

Jogador que se esforça para salvar o técnico da dispensa – "Atleta não deve se matar pelo treinador, deve ser leal ao clube e ao seu trabalho".

Estilo de jogo do Corinthians e a história – "A história do clube é de jogo vertical e intenso. Nós jogamos de forma diferente. Queremos a posse de bola e paciência para atacar. Se não der pela direita, voltamos a bola, tentamos pelo meio, pela esquerda".

Hierarquia. Tite acha essencial e exemplificou com a história dos três papagaios. "Quanto estava no Guarani de Venâncio Aires, o presidente me contou essa história. Disse que tinha um papagaio que cantava uma musica e que ele venderia por 500 reais. Tinha um segundo papagaio, que cantava o Hino Nacional e que ele venderia por mil reais. E tinha um terceiro, que não fazia nada e que ele não venderia por dinheiro nenhum. Esse é o que manda, sem ele os outros dois não vão fazer nada, não vão cantar porcaria nenhuma".

David Silva – Tem mais assistências que o Iniesta. Tem um olhar em 3D.

Meio-campo – Os jogadores precisam se completar, um tem de ter um estilo que ajude o outro. Devem fazer várias funções. Há que ter coordenação de movimentos e coberturas muito bem executadas.

Luís Enrique – A grande fera dos dois últimos anos. Mudou o jeito do Barcelona jogar. Deu novo lugar para Messi, mudou o jeito de Suárez e de Neymar. Mudou Iniesta, mudou Raktic.

Mourinho e Guardiola – "Mourinho é reativo, tranca o time e explora contra-ataque. Por isso, o Mata não deu certo com ele. Não quer armador, quer condutor e velocidade. Guardiola é diferente. Busca criar espaços, aposta na troca de passes, hoje é mais vertical do que nos tempos de Barcelona".

Por fim, perguntei a ele sobre

Carlos Alberto Silva, que ele considera um mestre – "Ele me ensinou que você deve tratar todos os jogadores, seja o Ronaldo ou um garoto da base da mesma forma".

Jubeiro, do Guarani do Paraguai derrotou você, taticamente falando? "Sim. Venceu taticamente no Paraguai e teve muita força mental para segurar o jogo aqui. Fui derrotado por ele".

Fiz uma explanação dizendo que um dos motivos do atraso do futebol brasileiro é a má qualidade dos treinadores.

Tite concordou rapidamente, mas logo mudou o foco.

"Jornalistas e repórteres também precisam melhorar. Não adianta mais dizer que o cara foi bem porque venceu. Tem de questionar, mostrar que o trabalho pode ser bom e perder, pode ser ruim e vencer. Mostrar como o time é armado, com quantas linhas etc"

Tite está muito acima da classe. Tenho certeza que, com ele, vitória ou derrota não serão explicadas pelo empirismo: "meu time estava mal e encaixou durante o jogo. Ou, "meu time estava bem e desencaixou durante o jogo"

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.