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Menon

Parabéns a Dudu, que sonha substituir Edmundo. Mas é difícil

Menon

14/12/2015 06h18

Meu amigo Diego Salgado, o hipster, generosamente colocou meu nome na matéria que fez com Dudu. Na verdade, eu apenas segurei o microfone, enquanto o Salgadinho estava entrevistando o Prass. Fui um coadjuvante.

E leio que o Dudu sonha em ser no Palmeiras o ídolo que Edmundo foi. Ambos tem o número 7 às costas, bom futebol e uma certa propensão à polêmica. Dudu está certíssimo. Tem de sonhar grande, pensar em ser ídolo e nada mais do que mirar no passado de um grande.

O primeiro ano de ambos no clube é parecido. Edmundo fez 24 gols em 65 jogos e Dudu, 16 em 56 jogos.

O problema, para Dudu, é que apenas o numero 7 é igual. Os dois jogam futebol, mas o nível de Edmundo era altíssimo. E. quando, de polêmica se fala, Edmundo era inalcançável.

Edmundo era mercurial, alguém sempre jogando futebol em seu limite. Treino era jogo e jogo era decisão de título. Qualquer jogo. Encarava, provocava, ofendia, ia para cima, na bola e no pau, não tinha medo de nada e de ninguém.

Extremamente emocional, tinha seu futebol afetado por problemas familiares. E afetado não significa prejudicado. A raiva que carregava o fazia jogar ainda mais. No limite, sempre.

O clichê mais conseguido é o seguinte: "se Edmundo tivesse cabeça, iria muito mais longe". Eu acho uma bobagem. Se tivesse cabeça, Edmundo seria como o Euller, que também era bom, mas que nunca foi Edmundo. E, como assim, Edmundo iria mais longe. O que ele jogou em 97, ninguém no mundo jogou. Ninguém. E, em 98, foi reserva de Ronaldo. Chegou próximo dos 400 gols. Difícil superar.

O craque tinha muito de bipolar. Eu tive uma experiência real com isso. Em 1994, o Palmeiras de concentrava em um hotel em Santa Cecília. Era próximo à Barão de Limeira, onde ficava a redação de  A Gazeta Esportiva, onde eu trabalhava.

No domingo, 30 de outubro de 1994, eu estava em Aguaí. Peguei o ônibus de manhã e vim para São Paulo, onde trabalharia no clássico São Paulo x Palmeiras. Era o quinto jogo entre ambos no ano. O Palmeiras estava forte e, sob o comando de Luxemburgo, tentava tirar o domínio do São Paulo, bicampeão da Liberadores.

O São Paulo havia vencido no primeiro turno do Paulista, por 2 a 1 e o Palmeiras dado o troco no segundo turno, por 3 a 2. Este jogo foi em 1 de maio, dia da morte de Ayrton Senna.

Haviam empatado por 0 a 0 na Libertadores, quando o Palmeiras jogou muito e foi parado por um atuação monstruosa de Zetti. E, na partida de volta, o São Paulo havia vencido por 2 a 1. Depois, perderia o título para o Vélez Sarsfield.

E os ânimos estavam exaltados para aquele quinto jogo, válido pelo Brasileiro.

Antes de ir ao jornal, passei pelo hotel do Palmeiras. Os jogadores já estavam se dirigindo ao ônibus. Havia muitos torcedores pedindo uma camisa, uma meia, luva, aperto de mão, sorriso, o que fosse. E nada recebiam. Ainda não havia celulares em profusão e nem fones de ouvido para disfarçar. Então, passavam lentamente, sem olhar para o lado.

Edmundo, não. Parou, conversou, pegou uma criança no colo, bateu papo. E eu pensei como o Animal não era tão esquentado assim, como podia ser um cara bacana.

Bom, vamos ao jogo. O São Paulo atuou com Zetti, Cafu (Vitor), Murilo, Gilmar e André Luiz; Doriva, Alemão, Axel e Palhinha (Juninho); Euller e Muller. O Palmeiras tinha Velloso, Cláudio, Antônio Carlos, Cleber e Roberto Carlos (Gustavo); César Sampaio, Amaral (Paulo Isidoro), Zinho e Rivaldo, Edmundo e Evair.

Edmundo marcou aos 39 do primeiro tempo, Muller marcou aos 14 do segundo e Cafu virou aos 24, com Edmundo empatando aos 37 do segundo.

O clima ficou cada vez pior. Edmundo começou a ser ofendido por Kalef João Francisco, diretor do São Paulo, que estava no banco de reservas. Ele o chamava de favelado, bandido e outras coisas que não vieram a público. Edmundo também o ofendeu e imagens do jogo davam a impressão que ele estava brigando com Telê Santana.

O clima foi esquentando cada vez mais e o Edmundo que segurava crianças há poucas horas, deixou o campo. Mr Hide já era. Chegou a vez de Dr. Jekyll. Em lances seguidos, ele deu uma entrada dura em Euller, um tapa na cara de Juninho ( "esse aí é um meio homem,  apanha até do meu priminho") e um soco em André.

O jogo terminou em briga campal. Tonhão, fortíssimo zagueiro que estava no banco, tentou ser o protetor de Edmundo, mas ele não aceitou proteção. Foi para a briga, que terminou com a expulsão de Muller, Edmundo, Gilmar, Juninho, Antônio Carlos e César Sampaio.

Edmundo era assim: driblador, porradeiro, inteligentíssimo, alta técnica, craque que sempre jogou no limite. Sempre.

Sinceramente, Dudu pode até ser um ídolo como Edmundo foi, mas apenas pela ausência de craques no futebol brasileiro atual. Duvida? É só dar uma olhada na escalação dos dois times. Hoje, os craques estão fora. Caminho aberto para Dudu, que tem muitos méritos.

 

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.