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San Lorenzo, campeão do ano. Universal, por voltar à sua aldeia

Menon

30/12/2015 10h07

Barcelona e Real Madrid já deixaram a Espanha há tempos. Já ultrapassaram a Europa. São clubes de futebol, são marcas esportivas que tomaram conta do mundo. Há garotos usando seus uniformes em Potosí e Kiev. Em Nova York e Aguaí. São do mundo e, se houver descoberta de novos planetas, serão os primeiros a chegar.

O San Lorenzo, não. É de bairro. De Boedo, que antes pertencia a Almagro. Então, o San Lorenzo de Almagro, na verdade, sempre foi de Boedo. Desde 1908, quando foi criado. E foi ali, em Boedo, que, em 1916, construiu seu estádio. O Gasômetro, por ter formato parecido aos depósitos de gás, que existiam na época.

gasometrovelhoEra um gigante, com 75 mil lugares. Em 1939, foi inaugurada a iluminação artificial. O Gasômetro, orgulho do San Lorenzo, orgulho e fator de identidade de Boedo. Até 1979, quando a Ditadura, por conta das dívidas do clube, expropriou o Gasômetro. O espaço seria utilizado para a construção de algo que fizesse bem a Boedo. Na verdade, foi vendido ao Carrefour.

Os corvos, torcedores do San Lorenzo, ficaram ao léu. Sem casa, sem referência. O clube passou a mandar jogos em campos rivais. Até 1993, quando inaugurou seu novo estádio, o Pedro Bidegain. Logicamente, o nome não pegou. A saudade era imensa e o estádio passou a ser o Novo Gasômetro. É um estádio muito bom, com capacidade para 44 mil pessoas, agradável, bonito e limpo.

gasometronovoMas não é em Boedo. Ou seja, não é nada. É apenas um amor de verão, fazendo minorar as saudades do amor eterno. Os corvos encheram o novo estádio, mas nunca deixaram de sonhar em voar novamente até Boedo. Aqueles três quilômetros de distância, de Bajo Flores à Terra Prometida faziam toda a diferença.

Em 2012, 110 mil torcedores tomaram contra da Plaza de Mayo. Exigiam a aplicação da Lei de Reconstituição Histórica para o Velho Gasômetro. No Congresso, conseguiram vitória história por 50 a zero. E a pressão sobre governo e Carrefour foi enorme.

No final de ano, véspera de Natal – poderia ser diferente para um time que tem o Papa como torcedor? – foi feito um acordo. O Carrefour vende o terreno ao San Lorenzo e terá direito a uma pequena loja no local.

gasometropapaE já há um projeto para a construção do novo estádio. Será o Novíssimo Gasômetro? Pode até ser, mas o nome oficial será Papa Francisco. O custo de tudo será de US$ 150 milhões (R$ 600 milhões em pesos). O clube não tem esse dinheiro, mas os corvos fizeram uma fila terrestre no dia de Natal. Compraram fictícios metros quadrados do novo estádio. Não parece a compra de terreno na Lua? Não, amigo. É compra de terreno em Boedo. Em apenas um dia foram arrecadados R$ 500 mil, por 586 metros quadrados. E, pela internet, arrecadou-se mais R$ 150 mil. Um total de 2,12 milhões de pesos.

A corrente continua. O San Lorenzo precisa de 110 milhões de pesos (R$ 33 milhões)para assinar o boleto de compra. Já tem 67 milhões (R$ 19,9 milhões).

Uma loucura. Com certeza, uma loucura. Por que não ficar em Bajo Flores, com seu belo estádio e montar um belo time de futebol? Ou, então, aumentar a estrutura física? Criar um centro de formação de jogadores?

Tudo isso é correto. Mas, o futebol se move por loucuras. Por amor, por ideal. O futebol é o terreno ideal para Dons Quixotes.

O San Lorenzo, por amor ao bairro, por cantar sua aldeia, tornou-se universal.

PS – Esta nota foi criada a partir de informações de Leandro Stein e Bruno Bonsanti, ambos da www.trivela.com.br

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.