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Adeus a Lucas e um brinde à amizade que o futebol constroi

Menon

26/01/2016 16h30

Da esq para a direita (em pé): Carlos Oreia, Lemão Grilo e Gazela. Sentados: João Cró, Dirceu, Lucas, Jaú e Pedrinho Pintado Agachados: Romeu, Valdir Loiro (Garrincha de Aguaí), Carlos Gandolfi, Catuaba, Zezinho Monteagudo e Serginho Jumento

Da esq para a direita (em pé): Carlos Oreia, Lemão Grilo e Gazela.
Sentados: João Cró, Dirceu, Lucas, Jaú e Pedrinho Pintado
Agachados: Romeu, Valdir Loiro (Garrincha de Aguaí), Carlos Gandolfi, Catuaba, Zezinho Monteagudo e Serginho Jumento

O visor do celular mostrou um 019 e eu já vi que era de Aguai. O professor Carlos, um dos expoentes da família Gandolfi, que tem uma particularidade: ou o cara é craque ou é padre, como o querido amigo José Ivan, há tanto tempo vivendo em Caconde.

Carlinhos me conta que morreu o Lucas. "O maior centroavante de Aguaí em todos os tempos. Jogava muito pela Vila Nova e pelo Curtume", ele lembra. E me recordei imediatamente da única vez que vi Lucas jogar. A bola veio da direita, ele matou no peito, mas já ajeitando um pouco mais para a frente. Na caída, ele acertou a bomba, de direita, no ângulo da Usina Bambozzi, que dominava o futebol amador de então.

Lucas, o calango, já estava doente há tempos. Vivia em Mirassol e lá recebeu a visita de 14 amigos de futebol aguaiano. E eu fico imaginando como uma visita assim pôde ter ajudado. E da sensação da volta. A certeza de todos eles de terem visto o craque pela última vez. Foi assim quando fui a Pirassununga ver o grande Nicolau Radamés Creti.

O futebol molda caráter. Cria amizades para a vida eterna. Outro dia, o Dito Sabino, avô da Nina, me disse que tem amigos permanentes desde os nove, dez anos. Há mais de meio século. Amigos, dificilmente um médico vai a Mirassol visitar um amigo médico, um advogado não visita advogado, parente não visita parente. Mas quando se trata de um amigo de bola, a solidariedade explode.

Entre os visitantes estava o Dirceu. Sou amigo dele há muito tempo, desde que trabalhava em Cascavel, no Paraná. E já que se fala de lembranças, vou contar aqui o motivo da admiração que tenho por ele. Dirceu é um homem de direita. Digo isso sem ofensa, sem julgamento, apenas constato.

E, em Aguaí, houve Natanael de Moura Giraldi, contemporâneo de Dirceu, que lutou contra a Ditadura. Lutou em sua plenitude, com armas na mão, sequestrando e tendo a vida em perigo. Voltou ao Brasil com a Anistia.

E, quando chegou em Aguaí, quem estava com ele? Quem foi busca-lo no aeroporto? Quem fez de tudo para que ele se enquadrasse novamente na terrinha? O Dirceu, é lógico. Não conseguiu. Natan havia sofrido muito e, se a Ditadura não o matou, as lembranças da luta foram fatais. Nunca deixou de ser o Fred ou o Paulo Joseph Martins Duarte, seus outros nomes. Nunca foi o Natan que tinha a amizade de Dirceu desde criança.

E tenho certeza que foi uma amizade iniciada em um campo de terra, com quatro tijolos e uma bola rasgada.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.