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Neymar é um capitão desqualificado

Menon

01/04/2016 18h54

Todo mundo conhece alguém que está exercendo um cargo sem possuir a qualificação necessária. Todo mundo conhece Neymar.

O grande jogador brasileiro das últimas décadas, o craque que seria titular em todas as seleções brasileiras desde 1958, não tem perfil de capitão. Não tem qualidade para liderar nada.

Neymar é um produto desta sociedade exibicionista que vivemos. Coloca no instagram uma capinha de celular de ouro, que vale R$ 16 mil. Compra uma Ferrari e diz que dirigir um carro desses é seu sonho de infância. Mentira, né? Seu sonho de infância era jogar futebol dia e noite, na quadra, no campo, na praia ou numa casinha de sapé.

É um sujeito que, graças a seus méritos, conseguiu tudo o que tem. Nunca foi contrariado. Eu me lembro que tinha 14 anos e seu empresário conseguiu coloca-lo naquelas peladas que reuniam os pilotos de Fórmula-1 em São Paulo. Já era rico – ou R$ 60 mil por mês está ruim para vocês – já era badalado, já era protótipo de superstar.

Desde garoto foi tratado como uma mina de ouro. Para a família, para os amigos… Menos para o clube. Quando foi vendido para o Barcelona, fez de tudo – através ou de comum acordo com o pai? – para prejudicar o Santos. O time que o revelou ganhou uma merreca por sua venda. Ganhou a comissão e não o total. E na final do Mundial, Neymar já havia assinado com o Barcelona.

Esse tipo de projeto leva a pessoa a se tornar egoísta. A pensar apenas em si. Como pode liderar um grupo? Como pode abdicar de algo em função do grupo? Como pode ser espelho?

Na última Copa, quando foi covardemente atacado pelo lateral colombiano, deixou a seleção e viu a derrota por 7 a 1 pela televisão. Não viu toda, foi jogar pôquer. Na Copa América, quando os problemas com o fisco estavam aparecendo, teve um comportamento de prima dona contra a Colômbia e foi expulso.

Neymar só pensa em si. Há pouco, levou um cartão amarelo pelo Barcelona e voou para o Brasil para participar do aniversário da irmã, que tenta alçar voo como modelo. Não tem asas, mas tenta.

No velório de Cruyff, participou com roupas inadequadas, inclusive com boné. Parecia mais um funkeiro. Ou pagodeiro. Foi criticado pelos torcedores do Barcelona.

Mesmo em um país que pouco liga para a mística do capitão, falta muito a Neymar. Aqui, se diz que capitão só serve para o sorteio inicial. Ganhamos cinco copas e nossos capitães não são lembrados como Obdulio Varela, por exemplo.

Na Argentina, criou-se a figura do capitão como "dono do time". O jogador é escolhido como indicativo de que é o responsável pelo sucesso. Foi assim com Maradona. Billardo construiu um time em torno dele e, para isso, tirou a faixa de capitão dos ombros de Passarella. E Passarella, incomodado, retirou-se da seleção. Maradona, então o melhor do mundo, mandou e mandou. Mandou na técnica e mandou no grito.

Agora, é com Messi. E Messi é diferente de Maradona. Tem o mesmo futebol, talvez até mais, mas não mostra ascendência sobre todos. Isso fica por conta de Javier Mascherano, que, desde garoto, tinha o apelido de "Jefecito", o "chefinho".

Neymar, como capitão, é um caso desses. Ele foi escolhido não por sua fibra ou comportamento. Foi escolhido por seu nível técnico totalmente fora da curva. Foi escolhido por Dunga para sinalizar um tempo de renovação, após a ignomínia de 2014. A seleção é dele. Mas, onde está o Mascherano do Brasil? Quem pode ter atitudes de liderança, de companheirismo, de enfrentamento?

Não frequento o vestiário da seleção. Mas posso imaginar Neymar comandando a roda de pagode ou uma sessão de selfies. Posso vê-lo falando de um novo carro, barco, avião ou da garota do filme A Quinta Onda. Não consigo vê-lo dando ânimo e amizade aos colegas. Não posso vê-lo no comando.

Ele não foi criado para liderar.

Ele foi criando para ser milionário.

Para ser o comandante do bloco do eu-sozinho.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.