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Portuguesa tem direito à dignidade

Menon

08/04/2016 06h12

portuguesaA Portuguesa não tem um time à altura de sua história. A Portuguesa não tem presidente. A Portuguesa tem dívidas que dificilmente conseguirá pagar. A Portuguesa pode perder seu estádio. A Portuguesa atrasa salários constantemente. A Portuguesa pode deixar de existir. E é a Portuguesa que, mesmo soterrado por problemas e vergonha quem deu um grito de basta. A Portuguesa exigiu respeito. E surpreendeu com um gesto muito digno. Mostrou que está viva e que exige respeito.

Três jogadores de seu elenco posaram com uma bandeira do Corinthians. O quarto, seu capitão, muito querido pela torcida, foi ao Morumbi e torceu loucamente pelo São Paulo. Parecia mais um comandante de torcida organizada do que um jogador. A Portuguesa reagiu e afastou os quatro jogadores.

O ato ocasionou reações diferentes. Os três "corintianos" não tiveram defensores. Na verdade, foi um gesto que não apareceu na mídia. Renan, não. Todo seu entusiasmo e ingenuidade foram retratados e chegaram ao conhecimento da diretoria, que foi muito criticada pelo gesto.

O argumento é o seguinte: a Portuguesa não é rival do São Paulo. Assim, não haveria um erro de Renan.

Ora, o argumento seletivo diz então que seria errado e imperdoável Elias ser flagrado em um jogo do Palmeiras. O argumento aceita que o Fluminense acertou ao afastar Sheik, que cantava o hino do Flamengo dentro do ônibus do clube ao se dirigir ao estádio. Neymar estava certo em assinar contrato com o Barcelona antes daquela final do mundial entre Barça e Santos?

E quem é que decide o que é grande e o que é pequeno? Há uma tabela de grandeza que permite a alguns a reação e impede um grito de revolta do outro?

Ora, amigos, não interessa o quanto o São Paulo é gigante e o quanto a Portuguesa tem se apequenado. O que interessa é o sentimento dos torcedores da Portuguesa. Eles se sentiram magoados, tristes, atraiçoados. O fundo do poço se abriu por hectômetros ao ver seu capitão no estádio do rival, com a camisa do rival, incentivando o rival, comandando a torcida do rival. E a minha autoestima para onde vai?

O futebol é paixão, é amor, é ódio, transcende as relações profissionais. Um funcionário da TIM pode ir a um show patrocinado pela Vivo, pode dizer aos amigos que o plano da rival é melhor….Business. Futebol, não. Futebol é muito mais que um contrato de trabalho, muito mais que uma página na carteira de trabalho.

Os dirigentes da Portuguesa, pela primeira vez desde 2013, respeitaram o seu torcedor. É muito pouco. Deveriam fazer isso mais vezes. Deveriam abandonar as brigas, deveriam se doar ao time, ao clube, deveriam ter uma gestão profissional, deveriam respeitar a Portuguesa. Deveriam pagar em dia aos jogadores.

Afastar Renan é pouco. Mas foi uma atitude digna, E ninguém pode definir quem tem o direito de ser digno. O grande pode e o pequeno não? Qual a elasticidade da régua que mede valores humanos?

Se tiver alguma dúvida pergunte a um torcedor da Lusa como ele se sentiu com o que Renan fez – de maneira ingênua – no Morumbi.

Só eles podem saber.

Você também pode ouvir o podcast Tabelinha e descobrir a opinião de PVC e Claudio Carsughi sobre o tema. Clique AQUI

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.