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Fred despreza o Flu. E o futebol. Há muitos como ele

Menon

12/04/2016 06h00

Fred, do alto dos seus R$ 800 mil mensais, decidiu que não joga mais no Fluminense enquanto Levir Culpi, o treinador, lá estiver. Será emprestado a algum clube até o final do ano e, então voltará para cumprir seu contrato até o final.

O atacante reduziu o Fluminense a uma barriga de aluguel. Fico quanto quiser, do jeito que quiser. E, depois volto. Uma pergunta: se o Fluminense é barriga de aluguel, o que será o clube que ficar com Fred por oito meses? Barriga de aluguel de barriga de aluguel? E já está definido que Levir deixará o clube ao final do ano?

Profissionalismo no Brasil é assim. O jogador trata um contrato assinado com o mesmo grau de lealdade de uma cobra com seu amestrador. Não há respeito algum. O único que importa é o dinheiro na conta no final do mês. R$ 10 milhões no ano. Se não ganhar nada, porque aí ainda tem prêmios e mais prêmios.

E o que levou Fred a se afastar do Fluminense? Eu li duas versões e as duas merecem crédito. Em uma delas, Fred se sentiu humilhado porque Levir disse que ele desrespeitava os jogadores jovens, com cobranças exageradas em campo. Em outra, Levir havia se insurgido quando, em uma preleção, Fred teria dito que a solução era aquela antiga, da várzea: "toca ni mim que eu resolvo. Reduziria todo o planejamento tático a isso. Quase um rei Luis XIV e seu "o estado sou eu".

Para piorar o pecado de Levir, ele teria dito o que disse na frente de todos os jogadores. Fred considerou o fato como um desrespeito aos seus anos de clube. Talvez ele gostasse de uma conversa particular. Ou que Levir agisse pelas costas.

Um jogador que ganha R$ 800 mil mensais não pode ser tratado da mesma forma que os outros?

Este é o profissionalismo defendido pelo atacante do Fluminense.

Há muitos como ele. Jogadores que não cumprem o que assinam. Aliás, nem sei se sabem o que foi assinado. Fica tudo nas costas do procurador. A melhor profissão do mundo. Um dia, Gilmar Rinaldi, me explicou algo que até hoje não entendi. Ele era procurador de Danilo e usou o jogador como exemplo: "se o Danilo renovar com o Corinthians, eu ganho uma porcentagem dele e outra porcentagem do Corinthians". Ganha dos dois para não fazer nada.

Com tanto dinheiro à mão, o procurador se interessa em saber onde a sua galinha de ovos de ouro atuará? Nem um pouco. Coloca aqui. Se deu certo, faz de tudo para tirar. Se não deu, faz de tudo para tirar. Só fica quieto quando não há onde colocar o jogador.

Os clubes são tratados assim. Como depósito. Como lixo. É algo que veio a reboque da Lei Pelé. Que eu considero essencial. Mas tem esse efeito colateral: os jogadores não amam os clubes. Mais do que isso, humilham os clubes. Não respeitam os clubes. E os clubes são a expressão da paixão pelo futebol. O torcedor do Fluminense ama o Fluminense e não ama o Fred. Mesmo que a camisa do Fred passa a ser utilizada por um Wandercleysson qualquer.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.