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Menon

Futebol é paixão, estúpido

Menon

09/05/2016 09h15

torcedorsofaObrigação de jornalista é dar a informação mais completa possível. Quem o atacante driblou antes do gol, por exemplo. Mesmo quando o drible é tão lindo que deixa sem importância o nome do driblado. Daqui a alguns anos, quando um garoto for ver as pedaladas de Robinho naquela decisão, tanto faz se o humilhado é Rogério ou Rovilson. Os humilhados e ofendidos de Garrincha eram joões. Russos, argentinos, uruguaios, rubro-negros, vascaínos, finlandeses ou marcianos. Apenas joões.

Por isso, nem fui procurar o nome do atleticano que ameaçou processar Diego Aguirre porque gastou R$ 300 e viu seu time perder o título para o América. Reparem, por favor, que eu não usei o termo torcedor antes da palavra atleticano.

É consumidor. Torcedor de sofá. Se não é, tem a alma e o espírito daqueles que vem o jogo em casa, ao lado do mosão, que a cada 15 minutos traz uma cerveja nova da cozinha.

Possivelmente ele deixou o lar porque acreditava em um título fácil. Porque era contra o Coelho. Se fosse contra o Cruzeiro não iria. Medo de confusão, medo de engarrafamento, medo de tudo.

O Coelho, embora com vantagem, era o adversário ideal para ser abatido. Para que seus filhos vissem como é legal ser campeão. Nem precisa torcer, eu digo.

Mas o futebol é isso. O mais fraco pode vencer. E olha que estamos falando de um time tradicional, com 15 títulos conquistados. Com bons jogadores e bom treinador.

O cara talvez nem soubesse disso. Pegou a família e foi. Fez esse sacrifício pelo clube. E o time perdeu. Quero meu dinheiro de volta, ele diz, como se estivesse falando de um saco de pipocas sem sal. Ou com muito sal.

O clube me deve. Não sou eu que devo amar o clube sobre todas as coisas terrenas. Não sou eu que devo ir em todas, gritar cânticos eternizados por outras gerações, não sou eu que devo abusar do filhadaputaputaqueopariu, não sou eu que devo xingar a mãe do juiz. Não. Eu fui. Você vence. Se não vencer, me dá o meu dinheiro.

E o tal atleticano viu mesmo o jogo? Ou tirou selfies de montão. Com seu celular iphijlamie de última geração postou as fotos imediatamente e marcou o nome da patroa para que ela desse muitos likes?

Ah, o celular. Quantas jogadas de Ademir da Guia, César Maluco, Pelé, Coutinho, Pedro Rocha, Careca, Ivair, Denis, Dica, Neneca e tantos outros teriam ficado para trás se houvesse celular nos mágicos anos em que os craques não saíam do Brasil até serem craques.?

Futebol é para se discutir no boteco. Não no whatsapp. E o que se deve discutir é a qualidade do atacante, a virilidade do zagueiro, a elasticidade do goleiro, a honestidade do árbitro.

Futebol não é para

Meu gerente de futebol é melhor que o seu

Eu tenho arena, você não tem

Tenho mais sócio torcedor que você.

Meu goleiro fala espanhol e o seu nem fala português

Meu time tem cogestão e o seu?

Minha fisioterapia deixa a sua no chinelo.

Futebol é paixão, estúpidos.

E aquele sacripanta é consumidor. Só isso.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.