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Orlando Duarte: "Pelé é incomparável. Podem chegar perto dele e nada mais"

Menon

14/09/2016 12h41

Uma risada agradável marca o início da nossa conversa. O motivo foi a pergunta, cada vez mais constante nos tempos de futebol

Foto de Sergio Mattar

Foto de Sergio Mattar

globalizado (ainda bem) em que Messi e Cristiano Ronaldo mostram seus argumentos futebolísticos aqui no nosso sofá (ainda bem). "Desculpe rir, mas, não. Ninguém é como Pelé", diz Orlando Duarte, o Eclético, homem de 14 Copas e 10 Olimpíadas, além de 34 livros inscritos. "Pelé é um atacante, nada mais que isso. Não é beque, não é meia, é atacante. Nasceu para fazer gols. E como fez. Como comparar com alguém se ele foi o melhor atleta do século?"

Quando a resposta é complementada, fica claro que Orlando Duarte não está sendo nacionalista ou pelesista. Ele não despreza craques para escolher o Rei como maior de todos. "Messi, Cristano, Maradona, Cruyff foram espetaculares. Jogadores inesquecíveis. São jogadores que chegaram perto de Pelé, como Leônidas e Zizinho também chegaram. Não é proibido chegar perto de Pelé, não é proibido ser melhor que Pelé, mas eles não foram e não são".

Pelé, Leônidas, Zizinho e tantos outros. Nomes que criaram a marca de maior futebol do mundo. E como o maior futebol do mundo perde por 7 a 1 da Alemanha?

Em 1950, o Brasil venceu a Suécia por 7 a 1 e a Espanha por 6 a 1 e apenas empatou com a Suíça por 2 a 2. O futebol é assim. Quanto á nossa derrota por 7 a 1, é inexplicável porque o resultado do jogo não reflete alguma diferença técnica entre Brasil e Alemanha. Foi péssimo, foi horrível, mas poderia ter sido evitado, principalmente se os nossos treinadores tivessem um nível melhor e fossem mais atualizados. O Brasil tem muitos bons jogadores e o que falta é melhor esquema e melhor treinamento. Perdemos, mas não podemos acreditar que a Alemanha é tão melhor do que o Brasil porque não é. Esse derrotismo vai fazer mal para o futebol brasileiro

O senhor fala dos nossos técnicos, mas os dirigentes também não são bons…

Sim, alguns estão cumprindo pena, mas é bom lembrar que caiu a cúpula da CBF, caiu a cúpula da Conmebol. O nível é baixo em muitos lugares e não pode ser usado para explicar os 7 a 1. É necessário uma profissionalização maior em nosso futebol, em todos os sentidos.

orlandoduartenovoOrlando Duarte se emocionou com a Olimpíada e também com a Paraolimpíada. Pelos resultados, mas principalmente pela organização mostrada pelo Brasil. "Falaram tanto, que tudo ia dar errado, que seria um fiasco e a Olimpíada foi um sucesso. Do mesmo nível que muitas que vi. Trabalhei em dez, a primeira foi em 1968 e posso garantir que o Brasil cumpriu seu papel. A abertura foi genial".

E vai ficar algum legado para o país? O brasileiro passou a ter mais cultura esportiva após os Jogos?

Olha, o brasileiro só vai ter cultura olímpica quando tiver dinheiro para comer bem todo dia, quando tiver saúde e educação. Aí, vai sobrar dinheiro para ir a jogos e para aprender sobre esporte. Isso pode melhorar também se os dirigentes esportivos souberem utilizar de maneira adequada as novas arenas que foram construídas. Os estádios da Copa também. Ficam criticando, mas vai fazer o que? Dinamitar tudo e derrubar? Não, tem de achar o melhor modo de usar. Estádio é importante para o desenvolvimento do futebol. Corinthians e Palmeiras têm estádios novos e só ganham com isso.

Rádio, televisão e jornal. Não houve mídia em que Orlando Duarte não trabalhasse. Ele descreve a aptidão de maneiras simples, quase simplória, como se não houvesse muito mérito aí. "No interior, eu fazia jornal e rádio. Vim para São Paulo e continuei fazendo. Nada de novo, a não ser a grandeza. A televisão ainda não existia, quando começou a ter eu fui também. Deu certo".

Qual a mídia preferida?

Jornal, evidentemente. Tem mais peso. Como pensar em Nova York sem o New York Times? E Londres, sem o Guardian? No Brasil, estamos perdendo muitos jornais. Só em São Paulo foram A Gazeta Esportiva, Correio Paulistano, Folha da Tarde, Diário da Noite, Ultima Hora, O Tempo, Jornal da Tarde. E agora, estamos perdendo revistas preciosas. Como viver sem a mídia impressa, com poder da informação e da opinião forte?

Por isso, o senhor escreve livros?
Sim, já foram 34, apenas três fora do esporte. Minha ideia é o registro, é deixar as coisas marcadas. Nosso futebol é maravilhoso, precisa ser retratado e resgatado.

Wanderlei Nogueira, Milton Neves, Orlando Duarte e Jose Silvério (Foto Terceiro Tempo/Que Fim Levou?)

Wanderlei Nogueira, Milton Neves, Orlando Duarte e Jose Silvério (Foto Terceiro Tempo/Que Fim Levou?)

E rádio?

Foi muito forte, mas está sendo vendido para igrejas. O rádio esportivo também perde forças, havia mais gene trabalhando. O melhor narrador que convivi foi Joseval Peixoto, sem dúvidas.

Há saudosismo na fala de Orlando Duarte, mas há embasamento no que fala. Não é apenas o famoso "no meu tempo era melhor". Na crítica que faz à narração da televisão, pode-se ver um projeto válido até para o futuro. "Não consigo entender porque o narrador conta o que a imagem está mostrando. Parece rádio. Fulano está correndo, está passando…Precisamos de uma narração informativa. Dener, com a bola, tem 23 anos, é bom driblador, começou na Portuguesa…"

Que exemplo de narrador faz assim?

Quem fez foi Luís Noriega, que eu tirei da Tupi para a TV Cultura. Voz bonita, muito bem informado, privilegiava a informação. Um sujeito fantástico, de quem tenho saudades. Foi meu braço direito. O filho dele é um comentarista muito bom.

E a Portuguesa?

Gosto muito, meus pais vieram de Portugal. Está em uma situação terrível, sofreu muito com a queda do nível de seus dirigentes. No início, eram pessoas de alto nível, representantes reais da colônia. Agora, está muito ruim.

Pedi para fazer a última e Orlando Duarte disse que eu já havia prometido isso e não havia cumprido. Deu outra risada e se despediu. Perguntei pelo email para que eu pudesse avisar quando a matéria estivesse no ar. "Email, não tenho, só minha mulher. Mas quando sair, me avisa por telefone".

 

 

 

 

 

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.