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Carlos Alberto Torres, o homem que amou a taça

Menon

25/10/2016 16h05

capita3O celular me avisou da morte de Carlos Alberto Torres. Uma tristeza imensa tomou conta de mim. É sempre assim quando um imortal morre. Os imortais deviam ser imorríveis.

Capita-12A primeira lembrança que tenho de Carlos Alberto Torres vem junto com a de uma televisão preto e branco e a voz de Walter Abrahao. TV Tupi. O Brasil jogava e o Carlos Alberto enfrentava um ponta muito bom. Não sei o ano, não sei quem era o ponta, mas tudo indica que era antes de 1965, quando ele veio para o Santos. Por que? Porque Abrahão o criticava. A rivalidade entre Rio e São Paulo não permitia um aplauso. Possivelmente estava fazendo lobby por algum jogador paulista.

"Olha como ele recua, olha como ele recua, olha como ele recua" foi o mantra. Depois, Carlos Alberto Torres tomou a bola, acabou com o ponta e foi para o ataque. Um monte de vezes. Tá bom, essas duas últimas frases podem não ser verdadeiras. Pode ser minha memória afetiva falando.

Mas pode ser verdade sim. Ele fez isso muitas vezes. Carlos Alberto era um jogador a frente de seu tempo. Era um lateral que apoiava. E quem não se lembra do último gol do Brasil contra a Itália na final de 70. Pelé tocou em diagonal. Ninguém aparecia na tela da televisão. O que o Pelé está fazendo, caralho. E, então, aparece o lindo Carlos Alberto na direita. Com elegância eterna. A bola, um pouco antes de chegar nele, bateu em um morrinho artilheiro e subiu um pouquinho. O suficiente para ele acertar uma bomba. Olha, eu não tenho certeza de havia um montinho artilheiro. Todos sabemos que a bola gosta de craque. Todos sabemos que a bola gosta de ser chutada pelo craque.

E ele era craque. Além de ser um lateral que apoiava, tornou-se um quarto zagueiro espetacular. Com posicionamento, com antecipação, com passe. Eu tenho um fetiche por quarto zagueiro com nome duplo. Para mim, todos deviam ter nome duplo. Acho imponente. Ramos Delgado, Darci Menezes, Dario Pereyra, Elias Figueroa, Franz Beckenbauer, Daniel Passarella. Carlos Alberto era tão bom que tinha nome triplo.

Carlos Alberto, é preciso dizer, sabia ser mau. Como um picapau. Na Copa de 70, o atacante Bell (ou seria Ball), estava levando vantagem sobre Everaldo, nosso lateral esquerdo, parte integrante do trio dos não craques, com Felix e Brito. Carlos Alberto mudou de lado e acertou-lhe um botinada terrível. Murchou o inglês. (Na verdade, foi no Lee, após entrada dura em Felix, me conta o amigo Marcelo Laguna, que cobriu o Mundial de 70)

Foi o terceiro capitão a levantar a Jules Rimet. Bellini inventou o gesto de levantar a taça. Mauro o imitou. Bellini era um espartano. Mauro era um esteta. Ambos levantaram a taça com respeito. Depois, veio Dunga, com seu ódio eterno. Xingou a taça. E Cafu, com a alegria de um passarinho, fez festa com ela. Carlos Alberto inovou. Beijou a taça. Tinha amor por ela. Pelo futebol. E era correspondido. Foi o maior jogador de defesa que vi jogar. O maior.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.