É campeão. Viva o Palmeiras. E o Parmera também
Minha família tem muita gente que canta e vibra com a defesa que ninguém passa e a linha atacante de raça. O tio Etore, por exemplo. Só o vi uma vez, quando fomos visitar parte da família, em Tambaú. Era uma sala grande mas o que chamou a atenção foi o som, vindo do quarto. Entramos, eu e minha mãe, de mãos dadas.
Ele se levantou e falou: "Myrian, como está grande seu filho. Pra que time você torce? Não precisa falar, deve ter puxado ao pai. Eu sou parmerista". Mamãe falou um pouco com ele e deixamos o quarto para não atrapalhar tio Etore envolto naquele ritual que já foi, um dia pelo menos, de todo brasileiro. Abraçado ao velho Philco ouvindo futebol. A narração – eu juro que lembro – era de Fiori Gigliotti.
O Poeta gostava de se dizer parmerense ou parmerista. Nunca, palmeirense. O Poeta, homem muito culto, dentista e advogado, gostava de chocar. Filho de pai são-paulino e mãe corintiana, irmão de dois corintianos e um são-paulino, entornou o caldo e virou verde. Acho que era um amor tardio, porque sua referência era Leivinha. Percival Bacci era um fã incomensurável de Leivinha. Mais do que Ademir, Nei, Cesar, Edu Bala, Dudu, Ademir, Leão, Eurico, Luis Pereira ou Zeca. O Poeta era de Leivinha. Nunca vi, mas deve ter feito um poema para o craque cabeludo.
Era conservador na política, mas liberal no futebol. Nunca influenciou os filhos. Percival Jr. é palmeirense por ser, tanto que as
filhas Mariana e Beatriz são são-paulinas, influenciadas pela mãe, a Cecília que faz leitoa como ninguém. Johnny B. Good, que é como eu chamo o João Amadeu virou santista, influenciado por alguma das milhares de gerações de Meninos da Vila. E Mauro, o mais novo, é um exemplo de tenacidade. Palmeirense até hoje, mesmo com a paixão tendo se iniciado sobre a inspiração de Aragonés, o boliviano.
Família de muitos primos. De encontro na férias. Beto vinha de Porto Ferreira para Aguaí. Ali, era massacrado por outros primos: Junior, Carlão, João Zé Luiz…todos são-paulinos. Um dia, cansado de ser minoria, fez um pedido para a mãe, minha amada Tia Glorinha: "posso virar são-paulino só nas férias, para não ficar por fora"? "Não pode, não. De jeito nenhum", disse Alamir Favoretto, o pai. "Nós somos palmeirenses e acabou, entendeu, filho". Entendeu, é lógico. Uma grande missão de vida. O futebol forma caráter, não se muda diante de dificuldades.
O amor pelo futebol não tem hora para chegar. Meu amigo Antônio Cesar Simão, por exemplo, era palmeirense apenas para constar. Em Lins, na luta contra a Ditadura, ele pouco falava no assunto, que era privilégio de Mauro Achiles. De trinta anos para cá, o coração ficou muito mais verde. O gordinho sofre muito com seu Palmeiras. E fica contente também. Simão é apaixonado, hiperbólico e vê seu time campeão do mundo no ano que vem, sem chance para Barcelona ou Real Madrid. É o capo de uma família toda verde, a doce Deise e os filhos, José e Maria.
Quem conta os dias para o título é Paulo Taça, o maior jogador de futebol de salão de Aguaí em todos os tempo. O cara que jogava com redinha no cabelo para não desmanchar o penteado. Que só usava tênis baixo, quase um conga, sem nenhuma chiquesa. Campeão da FUPE, pela Luiz de Queiróz. Paulo Gattai, o surfista, irmão da minha amada, palmeirense por suave imposição do seu Fábio.
E, por fim, a pessoa verde ique eu mais amo. Minha Bruna. No início, influenciada pela mãe, foi até mascote do São Paulo. Depois, virou palmeirense. Mais verde que um marciano com hepatite. Vitória do cunhadão Canal. Estão felizes como pinto no lixo. "Por nosso alviverde inteiro, que sabe ser brasileiro, ostentando sua fibra"
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