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Só o passado justifica Oswaldo no Corinthians

Menon

18/11/2016 14h43

osvaldoOs treinadores brasileiros alcançaram um patamar financeiro invejável. Não acho que mereçam, mas estão lá, no topo, e receber R$ 10 mil por dia não é incomum. Clubes como o São Paulo se vangloriam de pagar no máximo R$ 350 mil mensais e sem multa contratual. Como se fosse pouco!

Bem, se os clubes querem pagar, que paguem. O que se pode analisar e contestar é o modo de seleção usado para se contratar um profissional que receberá um salário tão alto assim. E que assumirá responsabilidades tão grandes, por mexer com a paixão popular. Sim, um treinador recebe 10 vezes mais que um presidente – eleito pelo votou ou não – mas é cobrado 100 vezes mais.

Com certeza, o processo de seleção de um treinador é muito mais fácil do que o de um alto executivo do mundo corporativo.

Como Roberto Andrade escolheu Oswaldo?

Começa por aí. Roberto escolheu. Ponto. Não consultou ninguém. Chamou a responsabilidade. Usou a justificativa de haver delegado funções na escolha de Cristóvão, o breve sucessor de Tite. Como não deu certo, agora era sua vez.

Autocrático.

E como ele chegou ao nome de Oswaldo? Com certeza não foi uma escolha baseada nos últimos resultados. Uma ligeira volta no tempo mostraria trabalhos olvidáveis nos quatro últimos times que dirigiu: Sport, Flamengo, Palmeiras e Santos. Antes, no Botafogo, foi bem. Saiu em 2013, após vencer o campeonato carioca, deixando saudades.

E o trem rumo ao passado continua, com trabalhos honestos, dedicados, mas sem brilho. Há duas exceções: os quatro anos cheios de títulos no Kashima Antlers e….chegando ao ponto inicial de sua trajetória, o título mundial de 2000 e o título do Brasileiro de 2000 no Vasco, que só não foi seu por haver encarado a prepotência de Eurico Miranda, que o proibiu de dar as mãos para o treinador do Flamengo. Ele se recusou e foi despedido. Entrou Joel Santana nos dois últimos jogos. No ano seguinte, foi semifinalista com o Fluminense.

Então, sujeito a um erro ou outro, podemos dizer que Oswaldo de Oliveira, o homem que dirigiu os quatro grandes de São Paulo e do Rio, o sujeito bem educado e com cultura acima da média, o bom caráter que perdeu um título mas não perdeu a dignidade, teve um início espetacular de carreira que não conseguiu manter, a não ser por raros momentos como o título no Botafogo e o tempo no Japão.

Por que foi contratado? Pelo título de 2000.

Mas 2000 está longe. Já se passaram 16 anos. O futebol era outro, o Brasil era outro.

Eu não digo que Oswaldo está desatualizado, embora atualize métodos que estão em desuso. Não acredito em um único caminho para se ter sucesso. Um treinador pode ser campeão sem  repetir insistentemente expressões como terço final do campo, jogo apoiado…. Mesmo porque há maneiras diferentes de se fazer um trabalho marcante.

O que eu digo é que Oswaldo foi contratado pelo seu passado longínquo e não por seu passado recente. Foi uma opção autocrática de Roberto Andrade, baseada em sua memória afetiva. Ele colocou o título de 2000 acima de tudo o que Oswaldo fez (não fez) desde então.

Poderia dar certo? Sim.

Não está dando. E possivelmente não dará. Possivelmente também não daria com outro, afinal o desmanche foi muito grande e o nível atual dos jogadores é muito ruim. O Corinthians, como um filho perdulário que vive às custas do resto da herança deixada pelo pai, se mantém graças à gordura deixada por Tite.

Um motivo a mais para que a escolha fosse feita racionalmente, sem emoção.

Tudo indica que a terceira passagem de Oswaldo pelo Corinthians não terá nada a ver com a primeira. Ao contrário do que o coração corintiano de Roberto Andrade previu.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.