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Eduardo e Rogério: um muro que não separa ideias convergentes

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06/01/2017 05h00

eduardomonica2Renato Russo embalou muita gente com a descrição do amor improvável entre Eduardo, do camelo, e Monica, da moto. Diferenças que englobavam Bandeira, Bauhaus, Van Gogh, Mutantes, Caetano, Rimbaud, novela e um avô que jogava futebol de botão. Um muro ideológico a separa-los. Um muro físico separa outro Eduardo, o Baptista, de Rogério, o Ceni.

Um muro a separar ideias semelhantes. Foi o que se viu na apresentação do novo treinador do Palmeiras e na segunda entrevista coletiva de Ceni, ao lado de Michael e Charles, seus auxiliares mais próximos. Com três horas de diferença falaram de visões parecidas e que apontam para um 2017 instigante

E o que os une?

VERSATILIDADE – Ambos trabalharão para ter equipes que possam mudar de esquema sem que necessariamente haja a troca de jogadores. Baptista chegou a mostrar um Dudu parecido com Elias, no 4-1-4-1. Um meia por dentro, capaz de chegar na área, mas também de recuar e marcar como volante. Ceni explicou a opção por Foguete e não por Auro por ver nele capacidade de jogar como lateral, de fazer o fundo em uma linha de três e ainda de ser um volante. Aí, há uma diferença brutal: Dudu é um jogador pronto e Foguete está começando agora. Não é uma coincidência, pois o elenco de Eduardo é mais caro e famoso, enquanto o de Ceni tem 14 dos 28 jogadores vindos da base.

TODOCAMPISTA E NAO MEIO-CAMPISTA – Eduardo foi explícito: "não gosto de falar em volante, para mim tem de ser jogador de meio campo. Tem de marcar e passar. Não adianta tirar a bola e não saber o que fazer com ela. Não adianta só passar e não saber marcar". Ceni não falou, mas autorizou a saída de Hudson e está muito ansioso para que a diretoria consiga manter João Schmidt no elenco. Aqui, outra diferença: Ceni quer 28 jogadores e Baptista prefere 33.

OBSESSÃO – Rogério Ceni tem trabalhado 13 horas por dia com seus auxiliares para assimilar o melhor treinamento que será feio no dia seguinte. Eduardo Baptista, durante o último mês, viu 41 jogos do Palmeiras, 38 deles do Brasileiro e três do Paulista, quando o time estava mal. Os dois disseram que o treino não termina quando acaba e que o pensamento é sempre na bola.

BUSCA DO CONHECIMENTO – Eduardo Baptista terminou agora o curso da CBF, que lhe garante a licença A. Rogério Ceni abandonou os estudos na Inglaterra quando seu sonho de ser treinador do São Paulo – ele se ofereceu ou foi convidado? – se concretizou. São dois ex-jogadores (Rogério com história no futebol brasileiro e Eduardo restrito ao Juventus) que não se conformaram com os conhecimentos táticos dos tempos de boleiro.

Enfim, vai ser bacana o encontro entre ambos. Como Ceni reagirá quando Jean deixar a lateral para ser um volante? E quando Guerra,eduardomonica ao Palmeiras perder a bola, deixar de ser um terceiro homem de meio para ser um volante? E o que Baptista fará quando Breno e Rodrigo Caio abandonarem a linha de três para serem volantes? E quando Cícero deixar de ser volante para virar um meia ofensivo, com bom cabeceio? Alias, a transformação de Cícero em volante foi reivindicada por Eduardo Baptista em seus tempos de Fluminense? E David Neres será um ponta um ala? Qual dos dois obrigará o outro a ter uma posição reativa em campo, sufocado em seu campo? Quem sufocar o outro, terá de ter muito cuidado com contra-ataques puxados por Cueva, Guerra, Jean, Cícero, Roger Guedes, Neres, Dudu, Wellington Nem.

Vai ser bom, amigos. Não há muro que separe boas ideias.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.