Tostão, elo perdido faz 70 anos. Colômbia goleia Brasil em solidariedade
Tostão completou 70 anos ontem. Escrevo sobre ele hoje. Tudo bem, todo dia é dia de Tostão, uma das pessoas mais importantes na história do futebol brasileiro. Como jogador, com 36 gols em 65 jogos. Como pensador da bola, incalculável. Cada artigo é uma lição. Cada entrevista é uma aula. Uma contribuição extra-campo que Sócrates, também médico e também genial, não conseguiu nos dar.
Em 1969, o Brasil de João Saldanha disputou Eliminatórias. Foram seis jogos e seis vitórias. As vítimas foram Colômbia (2×0 e 6×2), Paraguai (3×0 e 1xo) e Venezuela (5×0 e 6×0). Vinte e três gols a favor e dois contra. Tostão fez dez gols. Pelé, o Rei, seis. Jairzinho, que seria o Furacão da Copa, marcou três vezes.
No ano seguinte, com a saída de Saldanha, o ataque Jair, Tostão, Pelé e Edu foi posto em xeque. Zagallo queria um centroavante de presença na área, um nove-nove. Roberto Miranda era o nome. Dario, outro. Tostão estava ameaçado. Ele, então, pensou no que deveria fazer para ganhar a vaga. Lembrou-se, então, do fantástico Cruzeiro que tinha Zé Carlos, Natal, Tostão, Evaldo, Dirceu Lopes. "Dirceu recuava e tocava para mim, que ficava mais à frente. Então, fiz o contrário. Recuava e tocava para Jair. Zagallo gostou e me colocou no time, com Rivellino na esquerda. Foi a seleção com cinco camisas 10".
Na Copa, foi assim. Tostão foi mais discreto, mais recuado, combativo e aparecendo na área. Um falso nove? Alguma coisa assim, permitindo a entrada de Jairzinho na área. Uma consciência tática que pouca gente tem.
Em 1974, o Brasil não teve Pelé. Mas era previsto. O difícil foi ficar sem Tostão. Ele seria o comandante, seria o jogador a comandar o time, com a experiência de seus 27 anos. Mas o descolamento da retina já era uma realidade e Tostão já havia abandonado a carreira. O elo perdido. O homem que faltou.
Em 2002, tive o prazer de conviver com Tostão durante a Copa da Coreia – Japão. Eu trabalhava no Jornal da Tarde e ele na Folha. Era o rei da resenha no hotel. Conversava de tudo, respondia o que se perguntava, sem um bocejo. Zero de máscara. Parecia um de nós. Eu e outros, como pernambucano Fabio Victor, viramos tietes de Tostão.
No dia da final, os japoneses mostraram lances da Copa de 70. Um painel enorme. Olhei para lá e estava Tostão participando ativamente do gol da vitória contra a Inglaterra. Olhei para o lado esquerdo e estava Tostão, o colunista. Chamei sua atenção para o painel e ele olhou, com saudade nos olhos. Deu um sorriso tímido, como se estivesse pedindo desculpas por ter sido genial.
Jogadores de futebol adoram o passado. É lógico. São seres humanos, como todos, que tem lá no que passou um lugar garantido na memória seletiva. Tostão teria o direito de ser assim. Não é. Tem a humildade de dizer, por exemplo, que Neymar é melhor do que ele. Que jogaria em seu lugar. Concordo com Tostão. Como sempre. Se Neymar e tantos outros craques tivessem a consciencia de Tostão, o futebol brasileiro seria outro. E o Brasil também. Muitos melhores, o futebol e o país.
E no dia do Tostão, o jogo da amizade chegou a 1 milhão. Muito pouco. Apenas 18 mil pagantes no jogo contra a Colômbia, com dinheiro doado para a Chapecoense. Se fosse no Atanasio Girardot, estaria lotado.
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