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Vampeta dá a Heltton o que o São Paulo deu a Breno: segunda chance

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27/01/2017 13h49

breno1_chiri_crop_galeriaA história de Heltton, o gato do Paulista, é um retrato fiel do que a sociedade brasileira oferece a seus cidadãos mais pobres, quase sempre negros. Para jogar futebol, ele usou documento de identidade do primo, Brendon, que está preso por tráfico de drogas. Não vou romantizar e nem fazer análise sociológica – os dois erraram e isto não se discute – mas é emblemático que as opções da família sejam a delinquência ou o futebol.

Heltton falsificou, mentiu e enganou. Só isso? Talvez, para ele, o verbo tenha sido, desde o começo, escapar. Para escapar do tráfico, para escapar da prisão – que é uma inevitabilidade para grande parte da população pobre – ele foi jogar bola. Onde o Estado não está, aonde o Estado não chega, as opções são poucas. Jogar bola ou delinquir. Heltton escolheu um lado. Mesmo que tivesse de delinquir.

Foi tratado como aquilo que ele lutou para não ser: "bandido", diz o delegado Olin, responsável pelo TJD, misturando suas funções na justiça esportiva com a criminal. O dedo de todos foi apontado para o gato, livrando-se imediatamente o empresário Alberto e o Paulista de culpa. Ou de negligência. O culpado já estava decidido: o preto pobre.

Vampeta, que também é preto e também foi pobre, ergueu a voz dissonante, desafiou a banda dos contentes. "Não é bandido". E foi além. Deu casa, comida e possibilidade de treinar no Audax. Não significa que Heltton, aos 22 anos, vá ganhar um lugar no time ou no banco. Nada disso. Vampeta deu a ele um emprego no país de 12 milhões de desempregados. Deu a ele a dignidade de ter uma carteira assinada e um endereço, algo que milhões não tem em Pindorama, governada pelo Rei da Mesóclise.

Uma segunda chance, foi o que Vampeta deu a Heltton. Quem erra, tem o direito de recomeçar. No caso de Heltton, é mais correto falar em primeira chance. Agora, é com ele

O São Paulo fez o mesmo com Breno, que joga muito mais que Eltton poderá jogar e que cometeu crime muito maior. E, se a capacidade futebolística separa Breno e "Brendon", a origem os une. Breno também é negro. Breno também foi pobre.O futebol mudou a sua vida. E quando ele se viu em terra estranha, sem falar a língua e sem poder praticar a profissão, foi tomado por profunda depressão. Provocou um incêndio na própria casa. Foi preso. E, ainda na prisão, assinou um contrato de trabalho com o São Paulo. Um contrato que facilitou a sua saída da prisão.

A segunda chance do São Paulo foi aproveitada por Breno.

A segunda chance de Vampeta será aproveitada por Heltton. Torço muito por isso. Que o futebol lhe traga futuro.

Vampeta foi exemplar. C0mo o Sao Paulo.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.