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Rio adota torcida única. Brasil, o país dos Florisvaldos

Menon

18/02/2017 05h33

Vivemos em um país em que o Ministro da Cultura – de relações desconhecidas com a cultura – humilha o maior escritor brasileiro vivo, no dia em que ele recebe o maior prêmio da língua portuguesa.

Vivemos em um país em que o legado do Pan foi abandonado para que se construíssem novas obras para a Olimpíada. Obras que estão abandonadas, sem uso da população.

Vivemos em um país em que o Maracanã, o mais icônico estádio do país, não pode ser usado pelos grandes clubes do Rio.

Vivemos em um país em que jogador reclama da comemoração do outro jogador. E o árbitro aceita a imbecilidade, punindo a alegria.

Vivemos em um país em que se vende craque jovem e se contrata jogador veterano.

Vivemos em um país em que os dirigentes dos clubes gigantes, expressões da paixão popular, aceitam ser governados por uma dinastia de corruptos.

Vivemos em um país em que há o caldo de cultura necessário para o aparecimento de florisvaldos.

Florisvado mandava no Grupo Escolar José Theodoro de Moraes, em Aguaí, a partir de 1960. Não sei se era bedel, se era servente, não sei o cargo, sei apenas que professores e diretores deram poder a ele.

E ele exercia sua autoridade no recreio, que é como nós chamávamos o intervalo. O páteo era enorme e ele traçou uma linha imaginária. Meninos para cá e meninas para lá. Um choque para as crianças, que até o ano anterior brincavam juntas de lenço atrás. O que poderia ter acontecido com a libido de crianças de sete anos, de um ano para outro? A gente era inocente. Nenhum de nós era um gênio das finanças como Michelzinho, que já tem propriedades no valor de R$ 2 milhões.

Se a bola do jogo de futebol caísse do lado das meninas, acabava o jogo. Florisvado urrava, berrava e não deixava que a bola fosse resgatada. E nem que as meninas fizessem o favor da devolução.

A solução contra não sei o quê era a separação. Um muro imaginário cultivado pela ignorância do Florisvaldo.

O futebol brasileiro é dirigido por florisvados: dirigentes e promotores midiáticos. Ao contrário da nossa infância, há um problema específico: a estúpida violência de nossos tempos. O mundo não é Aguaí. Aliás, há cinco anos, Aguaí foi vítima de um assassinato terrível em que a amiga Verinha perdeu seu filho de maneira brutal.

A violência está aí. Como resolver? Há gente paga para isso. A solução foi impedir a convivência. O Rio, como São Paulo, decide que não há mais torcidas diferentes em campo. Venderam o sofá. E o futebol brasileiro continua traído.

O Brasil é um grande José Theodoro, em que um sujeito sem capacidade técnica para tal, impedia o fluxo natural do futebol. E da liberdade.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.