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Menon

Tite não é Deus

Menon

08/03/2017 10h25

Grandes pintores retrataram Jesus Cristo. Alguns o fizeram loiro, outros, mais afeitos à realidade geográfica, moreno. Quase mouro. Poucos se aventuraram em dar uma face a Deus. Uma entidade sem rosto, um velho de barbas brancas. Morgan Freeman. No Brasil do décimo sétimo ano após 2000, a cara de Deus se confunde com o rostro trigueiro e incaico de Adenor Bachi, o Tite.

Bastou que os blogueiros do UOL discordassem (e não condenassem) da sua comemoração tipo bando de louco do gol solitário (mais um) da vitória corintiana contra o Santos, para que se criasse uma revolta. Chatice junto com cretinice, disse o Emerson Figueiredo, meu companheiro do Agora.

Tite é meu amigo. Mexeu com ele, mexeu comigo.

O reducionismo impera. Quem discorda de Tite é patrulheiro, é clubista, é bobão cara de melão e não percebe que o Redentor do Futebol Brasileiro é apenas um homem espontâneo. A espontaneidade não pode se sobrepor à liturgia do cargo. Tite é torcedor do Corinthians, mas estava lá como técnico da seleção. Para trabalhar e não para torcer.

Logicamente, o fato é menor. Nada que se contraponha ao magnífico trabalho que ele tem feito na seleção brasileira. Sete vitórias em sete jogos. Não se pode comparar a comemoração corintianíssima de Tite, por exemplo, com as sorridentes fotos do juiz Sérgio Moro com Aécio Neves, Michel Temer e João Dória. Talvez sejam do mesmo time, mas aqui, muito mais do que no caso de Tite, é preciso mostrar distanciamento e neutralidade.

Muita gente no Brasil vive a síndrome de Faustão. Quando garra a elogiar, não para mais. O sujeito é ótimo no profissional e no pessoal. Fizeram isto com Telê. Com Mano. Fazem com Tite. Parece que estamos diante do Pai da Pátria e não do melhor treinador que a seleção teve nos últimos 15 anos, desde a grande participação de Scolari no penta.

Tite é o mesmo que assinou um manifesto contra a direção da CBF e, que, ao ser escolhido treinador, brindou a bochecha de Marco Polo del Nero com um beijo. É o mesmo que fez um vídeo elogiando a candidatura de Marcelinho Carioca e se disse traído ao ver a peça na campanha do Pé de Anjo a qualquer coisa aí, não me lembro mais. Talvez ele tenha pensado que Marcelinho ouviria aquele depoimento toda noite em casa, com as portas fechadas, para não influenciar ninguém.

Ah, e se Luxemburgo levasse uma filha para ser auxiliar de seu trabalho como treinador na CBF?

Quanto ao Tite treinador, ele tem cometido um erro que já se viu em 2013. Está com o grupo fechado demais. Lá, ele morreu abraçado com Sheik e Romarinho, heróis do Mundial. Agora, é evidente que é difícil justificar a presença de Fagner na seleção. Ele, que cresceu com Tite, agora está estabilizado. Chegou ao máximo e não é um máximo tão máximo assim. E tem sido muito violento. Gil também não merece estar entre os quatro zagueiros.

Bem, é o que eu penso. Não me chibateiem por discordar um pouquinho que seja de Tite. Se eu fosse acreditar em Deus, acreditaria naquele que falou com Moisés e não com este que fala com Andrés.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.