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Menon

Civilização x barbárie também no futebol. Mimimi é ótimo

Menon

20/03/2017 10h57

Recebi um texto do Mark Suzuki-Tsuji, que me emocionou. Fiquei muito feliz. Repasso a vocês e convido para uma reflexão.

Capa do jornal Extra

Acabei de ler seu texto "Wellington e o SPFC fizeram uma grande bobagem". Sou fã seu desde os tempos em que eu lia os textos de "Luis Augusto Símon" sobre o meu Tricolor na tão saudosa Edição de Esportes do Jornal da Tarde, do alto dos meus então 13,14 anos. (….)

 Hoje sou expatriado, moro no Canadá desde 2002. Mas continuo acompanhando sua pena, ainda que com uma certa tristeza depois do fechamento do JT. Ia comentar lá na página sobre o texto a minha revolta com o que fez o Wellington, quando comecei a ler os outros comentários. Confesso que a pequenez de certos brasileiros, apesar de não surpreendente, às vezes me assusta. O descaso com as liberdades sociais, com o preconceito, tudo em nome do futebol. Não é à toa que bandeiras só são hasteadas em Copa do Mundo. "Mimimi" virou sinônimo de "cala a boca, foda-se o que você pensa, cago e ando para o que você diz".

Blanket stement, se me permite o uso do inglês. Virou uma resposta automática a qualquer semblante de pensamento que se atreva a deixar a área rasa da piscina. É o equivalente ao tão grosseiro "whatever" do inglês, com a tradicional pitada de agressividade e desdenho do brasileiro ignorante. Daquele que idolatra o Vampeta. Adoraria ler um texto seu sobre o "mimimi", apesar de desaconselhar adicionar lenha à fogueira das idiotices. Oh well. É isso. Só queria deixar um abraço e minha gratidão pelas suas palavras, com trinta anos de atraso.

Sobre o mesmo assunto, trago a vocês uma reflexão do jornalista Valdomiro Neto, do Lance!

Há uma ideia que vigora na cabeça de alguns de que estádio de futebol é o último reduto da virilidade, onde preconceitos estão liberados como se fosse uma grande maçonaria hormonal.

É o que eu penso, com uma nuance ou outra. A sociedade mudou e exige novas relações sociais. Antigamente, dizia-se que "segunda-feira é dia de branco" (lógico, afinal preto não gosta de trabalhar), chamava-se uma mulher negra de "morena", e usava-se o verbo judiar em vez de maltrata ar (afinal, todo mundo sabe que judeu é um povo ruim) e dizia-se macaco em referência aos negros. Ainda há imagens que resistem. Denegrir a imagem, por exemplo.

Tudo mudou. Ainda bem. Os que resistem, culpam o "politicamente correto". É fácil dizer isso, quando você não é negro, homossexual, judeu, praticante de religiões de matriz africana. O oprimido gosta da mudança. Lutou por ela.

Eu nunca usei esses termos. Em Aguaí, tinha o Beiço. Eu nunca o chamei assim. Minha família nunca o chamou assim. Era Coutinho, seu sobrenome. Nunca escrevi que a diretoria de tal time fez uma limpeza. Jogador não é lixo. Nunca falei silêncio na favela, nunca falei gambá ou bambi e sempre preferi periquito ao porco. Até depois de a torcida palmeirense haver adotado o novo símbolo.

O futebol reflete a sociedade e não pode ser vivido fora dela. Se uma pessoa insinua que um certo agrupamento social é formado por ladrões ou homossexuais, ela é rechaçada. (com uma diferença crucial: ser ladrão é crime). Por que podemos admitir esse tipo de comportamento no futebol?

Vampeta é dirigente de um clube. Só faz mal ao futebol com esta história de bambi. O mesmo vale pa Wellington. Fazem mal para o futebol e para a sociedade.

Um campo de futebol não é reserva de mercado para barbaridades. Por que é crime chamar um negro de macaco na fila do banco e é aceitável o mesmo comportamento dentro do campo?

Não estou falando de provocações como as do Felipe Melo contra o Santos. Nada contra. Não é preconceito. Não é acusação infundada de crime. Não é homofobia.

Mimimi é uma redução da discussão, da análise. Falar em futebol raiz em contraponto ao futebol nutella é simplificação.

A discussão é sobre a sociedade que queremos e sobre o futebol fazer parte dela ou ser um reduto para a barbárie.

Civilização x Barbárie. Esta é a discussão que teremos em 2018. Qualquer um x Bolsonaro. Eu já me preparo para ela. Já tenho meu lado há 50 anos. Defendo sempre a civilização e o aprimoramento da sociedade. No futebol, também.

PS – Eu não tenho nenhum poder sobre moderação de comentários.

PS – Todo leitor do blog, mesmo os defensores da barbárie, tem argumentos. Então, nada de petralha, mimimi, mimizento. Deem o melhor de si. A discussão pode ser boa.

TRAJANO NO RÁDIO – ESTRÉIA HOJE  o programa Zé o Rádio, de José Trajano. É um podcast de 45 minutos (quero mais), produzido pela Central 3, uma espetacular produtora que tem um naipe de 20 programas de alto nível. Trajano vai falar de futebol, de música, cinema, política e política no futebol. Ele terá a companhia, em rodízio, de alguns jornalistas. Fui escalado para o primeiro dia e estarei lá, sem falta. Farei campanha para acabar com o rodízio, para que eu possa participar todos os dias. Quero ser o vice do Trajano, sem nenhuma semelhança com o Temer.

DUDU ESTÁ NO LUGAR CORRETO – NA VIRADA do Palmeiras sobre o Santos, Dudu fez uma partida muito boa. Mais uma. Foi fundamental. Tite fez muito bem convoca-lo. Dudu cresceu muito nos últimos tempos, desde que foi alçado ao posto de capitão. Joga muito bem pela esquerda e pela direita. Pode disputar posição com William ou Douglas Costa. Gosto de Dudu também como meia central. Por ali, acredito que possa render muito mais que Giuliano.

DORIVAL, RESULTADO E DESEMPENHO – NÃO SOU UM GRANDE defensor da tese em que se deve analisar o trabalho do treinador e não o resultado. Ora, trabalho é feito para que o resultado venha. Mas, analisando os dois últimos jogos do Santos, considero uma imbecilidade qualquer pressão sobre o treinador. O Santos jogou muita bola contra o Strongest e merecia uma goleada. Jogou muita bola contra o Palmeiras e perdeu. Foi o melhor desempenho do time nos três clássicos que disputou. Dá a impressão que o Santos engrenou e vai crescer. Pressão agora, só vai atrapalhar a curva ascendente.

RESULTADO FINAL EM MONTEIRO – 50 MIL A ZERO para o time do povo

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.