Quem puniu Felipe Melo está errado
Felipe Melo é um grande jogador. Sempre o considerei assim. Mesmo agora, sem espaço em grandes times europeus (perdeu a posição para o baixinho Medel), está jogando muito bem no Palmeiras. Faz a diferença. Marca muito forte, sabe se posicionar, é bom de cabeça, faz inversões de jogadas com grande acerto, tem maturidade para não ser expulso, mesmo sofrendo um cartão amarelo logo a cinco minutos, como foi contra a Ponte. Não gosto quando fica gritando na cara dos outros jogadores, como no jogo contra o Botafogo, ao evitar um chapéu. Mas, o que sei eu sobre o magnífico esporte bretão que nunca pratiquei? É um jogo de contato e também um jogo mental. Talvez aquele tipo de grito ajude o time a se impor, talvez ajude o zagueiro ou volante a criarem a imagem de patrão da área…
Melo também acerta bons lançamentos. O mais belo, que eu me lembre, foi aquele para Robinho, contra a Holanda, na Copa de 2010. Um passe de Gérson de Oliveira Nunes que ficou olvidado pela patada que ele deu em Robben, da Holanda.
Felipe Melo não é um caso de Médico e Monstro. No seu caso, as duas personalidades convivem. Andam juntas. Não é um caso de substituição, é de divisão de ambientes. Os dois estão juntos, sempre e agora. E ele não faz questão de mudar. Acho até que Felipe prefere cultuar o lado bad boy do que o lado bom de bola. Talvez, até, ele não seja tão bom de bola se não for bad boy. Se quiser mudar, pode perder parte de seu futebol. Não sei, é uma conjectura.
O fato é que cultuar o personagem tem seus custos. Quando exagera, o preço é ainda maior. A entrevista que deu, ao chegar ao Palmeiras foi imbecil. "Vou dar tapa na cara de uruguaio" correu o mundo. Chegou a Montevidéu. E não venham culpar a imprensa por dar destaque a isso e não às qualidades técnicas e táticas de Melo. Mesmo porque, se eu gosto, outros podem não gostar. A frase, não. Ela está ali, para quem quiser ouvir. Está gravada e filmada, fora de contexto.
Então, a meu ver, os uruguaios resolveram pegar Felipe Melo. E o pegariam mesmo se houvessem goleado o Palmeiras. A cafajestada já estava planejada, a ignomínia já estava engendrada, a agressão estava definida. Independia do resultado. Foram para cima. Felipe Melo não reagiu. Foi correndo de costas. E que equilíbrio, poderia cair e ser massacrado. Mas ele não encarou, no que está muito certo. Foi recuando até o vestiário.
Mas, não resistiu. Aquela cara grande do Meir surgiu bem à sua frente. Redonda, pedindo me chuta, me chuta. E Felipe Melo bateu forte. O certo era não bater, era continuar recuando, mas não sou eu que vou dizer o que ele deveria fazer. Não estava lá. Nunca estive sob tamanha pressão.
Felipe bateu. Foi o único a bater. (No seu caso específico. Os uruguaios agrediram Prass, mas esses não merecem o exercício da dúvida. Bateram por covardia e merecem a toda punição) Melo, que bateu em defesa própria, também não pode ficar sem uma punição. Por enquanto, é de três jogos. Pode ser mais. Pode ser menos. Mas não pode ficar sem chumbo. Por menos, o Luís Fabiano pegou quatro jogos há dois anos. Não sei dizer quantos jogos seria o número justo, não conheço a lei, não sei o que ela diz, se foi agressão, conduta perigosa ou outra coisa. A verdade é que a Conmebol está amparada pela conduta midiática de Melo. Sabe aquela história do bandido que diz "eu não matei, só dei o tiro. Quem mata, é Deus"? Pois, é. Conmebol não puniu Felipe Melo, apenas decidiu a pena. Quem puniu Felipe Melo foi Felipe Melo e seu culto desnecessária a uma personagem que não deveria mais existir, ou pelo menos já deveria estar se aposentando. Uma personagem que se sobrepôs ao grande futebol que ele joga. Como não dá para punir um só…
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