Kid Vinil e o amor sequestrado
A cena mais triste do velório de Kid Vinil foi a de Kosmo, seu golden retriever, despedindo-se do amigo. Logo, foi superada por outra história mais triste ainda. O advogado Jaime Gaeta, que ficará com Kosmo, anunciou que foi o companheiro, parceiro, namorado, marido de Kid nos últimos 30 anos. E que, juntos, cuidaram de Kosmo desde que ele tinha 50 dias de vida. Hoje, tem 13.
Eu tenho uma companheira há 32 anos. Quantas vezes andamos de mãos dadas pelas ruas, quantas vezes nos beijamos em público, quantas vezes eu a abracei no cinema, principalmente em filmes de terror? Fomos juntos ao futebol, a casamentos, a shows – Tim Maia era o favorito – quantas vezes tivemos DRs na rua? Intermináveis. Brigas aos montes. Fomos e somos parceiros públicos.
E Kid Vinil e Jaime tiveram de ocultar tudo. Quantas vezes tiveram de sufocar um carinho, um afago, um beijo? Quantas vezes Kid não pôde, em um show, dizer "essa é para você, Jaime, meu amor"? O amor deles foi escondido do mundo. Foi um amor sequestrado pela sociedade, um amor condenado a viver em quatro paredes, um amor para espaços pequenos. Kid, Jaime e Kosmo. Longe de todos.
Que país é esse que determina onde você pode amar? Onde você pode demonstrar seu sentimento? Onde você deve estar confinado para que outros não se sintam atingidos por sua felicidade? Que país é esse em que você não é dono de seu corpo? Não pode colocar a mão onde quiser? Sua língua só pode percorrer o corpo amado no escuro do quarto? Que país é esse que determina, de forma restritiva, como você pode ter prazer? Qual é o prazer válido? E, tudo o que for fora da caixa, fora do normal (mas quem é que determina o que é normal?) é permitido penas em algum porto seguro, longe de outros seres humanos. Por que é o que somos, não? Seres humanos.
Que país é esse? É o país em que as pessoas tiram selfie com o goleiro Bruno e jogam bombas na apresentação do volante Richarlyson.
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