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Jairzinho e Renato mostram que pensamento único faz mal ao futebol

Menon

07/06/2017 11h08

A foto da revista Placar é espetacular e atravessa décadas, com duas leituras diferentes. A primeira, quando foi publicada, há 28 anos, mostra um garoto que foi trabalhar como gandula no Maracanã, para conseguir tirar uma foto com os ídolos Bebeto e Leandro, do Flamengo. Não conseguiu e tirou com Renato Gaúcho. Depois, com a franqueza da inocência de quem tem nove anos, foi cruel: "não dei sorte". E a história fica ainda melhor quando se lembra que o pequeno rubronegro é filho de Jairzinho, o Furacão da Copa, grande ídolo do Botafogo.

E tudo fica melhor agora, passado o tempo. O garoto cresceu e se transformou em uma das esperanças de renovação do futebol brasileiro fora das quatro linhas. Jair Ventura, com 37 anos, tem feito um trabalho extraordinário à frente do Botafogo. Assumiu o time no segundo turno do Brasileiro de 2016 e transformou o fantasma do rebaixamento em um fantasma mesmo, algo que não existe. E classificou o Botafogo para a Libertadores.

Passou pela fase preliminar e pela fase de grupos, superando todos os obstáculos. Está também nas quartas da Copa do Brasil e com boa campanha no Brasileiro. São muitas frentes para um elenco reduzido e a conta está batendo na porta. Perdeu o volante Aírton e busca soluções sem pedir contratações. Sabe que, no Botafogo, dinheiro não é capim. Trabalha duro, sem reclamar e se qualifica para ser o antídoto mais visível da famosa frase: "tem coisas que só acontecem com o Botafogo".

Jair Ventura é da fornada nova, da turma que acredita em estudo. Usa linguajar moderno e poucas vezes dispensa o termo "terço final do campo". É um contraponto ao Renato, seu parceiro da foto, que, avesso às modernidades, apresenta um Grêmio virtuoso, com um futebol leve e insinuante.

É o Grêmio do Roger, gritam os detratores. Para eles, o único mérito de Renato é haver mantido o que Roger fez. Uma injustiça. O Grêmio de Renato é muito melhor que o de Roger. Muito mais forte na defesa. Aliás, Roger disse outro dia que um time campeão precisa ter força defensiva. E ele não conseguiu fazer isso no Grêmio e não está conseguindo no Atlético.

Renato, ao valorizar a praia e ironizar a necessidade de estudo, foi na contramão do politicamente correto. Foi contra a ditadura do pensamento único. Só tem méritos quem cursou a Universidade do Futebol, quem fala em terço final do campo, em balanço defensivo, flutuação, jogo apoiado e basculação.

Futebol não merece ter uma visão única. Futebol precisa contemplar a diversidade, como me disse um grande amigo. Renato falou uma bobagem ao desmerecer a necessidade de estudo, mas não merece críticas que não reconheçam seu grande trabalho.

Renato, ao lado de Jair Ventura, são dois dos três melhores treinadores do atual momento do futebol brasileiro. O terceiro é Fábio Carille, que, ao contrário deles, venceu um campeonato em 2017. E onde andaria Carille no dia em que o menino filho do Furacão da Copa confessou ser torcedor do Flamengo? Sei lá, o que sei é que está aí, formando uma trinca de bons profissionais.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.