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Cuca, Ceni, Elano e a precária ética dos treinadores

Menon

28/06/2017 12h49

Grande parte de jornalistas adota a tese de que é um grande erro demitir treinador em início de trabalho. Qual é necessário dar tempo para que as ideias sejam assimiladas pelo grupo de jogadores. Outros são contra a demissão quando, passados dois anos de sucesso, o trabalho começa a falhar e não rende mais. Os treinadores seriam protegidos pelo futuro (ainda não mostraram o trabalho) e pelo passado (um dia esse trabalho foi ótimo).

Criou-se, então, a tese de que ser treinador de futebol é ago perigoso, sem segurança alguma. Uma tese que não leva em conta as multas enormes que existem nos contratos. Por exemplo: assinou por dois anos, foi demitido com seis meses, recebe o salário até o final do contrato. Não se leva em conta, também, o alto salário pago. Um governador de estado recebe R$ 30 mil aproximadamente por mês. Um treinador médio, recebe  R$ 300 mil. Ou seja, ganha o mesmo que Alckimin, Pezão, Sartori, Richa e mais seis, somados. Bem, esse exemplo não é bom. O que esses e outros governadores estão entregando não é nada bom e chegaríamos à conclusão que treinador precisaria ganhar R$ 3 milhões por semana.

Nossos treinadores – não sei os outros – estão longe de serem os coitadinhos, de serem as vítimas que a narrativa atual está impondo. Vocês já repararam como é rápida a assinatura de contrato de um novo técnico? O SUJEITO A é demitido ás dez da manhã. O SUJEITO B está todo uniformizado dando treino as 14 horas. Que velocidade, não? Salários acertados, comissão montada, multa acertada….Tudo depois da demissão do companheiro de profissão. Porque negociar antes não seria ético, não é?

Quando a velocidade falha, é a vez do auxiliar assumir por uma semana. Aquele auxiliar que ficou o tempo todo com o treinador, que teve tempo de conversar e que, teoricamente, deveria agregar conhecimento e trocar opiniões, que também é responsável pelo que estava sendo feito, assume e muda tudo no time. Coloca o Vecchio, que estava afastado, com a missão de vencer o jogo. A mensagem é clara: eu não tenho nada a ver com o que o outro estava fazendo. Será que o novo treinador acredita no que o auxiliar está dizendo. Ou sabe que está criando um corvo?

A pouca fidelidade de Elano a Dorival foi a causa de uma discussão entre Cuca, Cuquinha e Elano (já como auxiliar  de Levir Culpi) após a vitória do Santos sobre o Palmeiras, na Vila, pelo Brasileiro.

Outro exemplo da falta de solidariedade entre treinadores é dada quando atuam bravamente para diminuir o elenco do rival. Indicar um jogador é algo normal, não há nada de errado. A lei está aí e permite que alguém que ainda não completou seis jogos possa se transferir. Então, não há nada de condenável em Cuca pedir Richarlison, do Fluminense, ou Diego Souza, do Sport.

Só isso. Não deve ir além. O repórter Daniel Leal, do superesportes conta que o treinador palmeirense telefonou para o atacante e, durante uma longa conversa, garantiu que ele seria titular no clube. Algo muito importante para quem sonha e luta por uma vaga na seleção brasileira.

Abel Braga, treinador do Fluminense, conta que Cuca o procurou a negociação – justa e limpa negociação entre Palmeiras e Flu, por Richarlison – para dizer que ele não ficaria sem jogadores. Que o Palmeiras daria uma lista de quatro jogadores para que o Fluminense escolhesse dois?

Isto é função de treinadores? Não seria melhor ficar restrito ao campo? Alexandre Mattos ganha muito para isso.

Convidar jogadores para o São Paulo foi algo constante na carreira de Rogério Ceni, mesmo quando ainda era jogador. Foi assim com Aloísio, com Leandro e agora, como técnico, com Marcinho, do São Bernardo.

Imoral? Ilegal? Não sei. Inconveniente, com certeza. Se treinadores não são leais com treinadores, se fazem a função que não lhes cabe fazer, fica difícil manter a narrativa dos coitadinhos que não têm garantia no emprego.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.