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Kalil, do Galo, pratica a higienização do futebol brasileiro

Menon

17/07/2017 22h57

Eu imagino a gênese do futebol brasileiro da seguinte forma: um monte de ingleses jogava em um campo fechado, comandado por Charles Muller ou  Oscar Cox. Um deles dá um bicudo e a bola sai do campo, atravessa muros e, pesada como era a bola de capotão, cai com a força de um meteoro. Então, na rua, do outro ado do muro, um moleque pobre, descalço, meio assustado com o bólido, mata no peito, domina a criança e toca para outro brasileirinho, que dá de chaleira e….está feita a festa, está mudado o futebol mundial, está implantado o futebol brasileiro.

Está aí, na bela foto de autor desconhecido, pelo menos para mim, o que resta, de futebol, à grande maioria do povo brasileiro. O povo pobre, cada vez mais pobre. Foi o que decretou Alexandre Kalil, ex-presidente do Galo, sim, do Galo, time de massa, ao grande repórter Breiller Pires, da edição nacional de El País. Ah, Kalil também é prefeito de Belo Horizonte. E todo mundo sabe que sua ascensão política deve muito ao seu passado no futebol.

Kalil, conta o Breiller, vetou um projeto de lei que previa a carga de 30% do total de ingressos a preços populares em jogos na capital mineira. "Futebol não é coisa para , pobre. Futebol não é forma de ajuda social", disse Kalil, que não tinha o direito de dizer o que disse por ter vindo de onde veio. Veio da massa, se elegeu com a massa e agora embarca na onda da higienização.

Dizem que futebol não se deve confundir com política. Ah, tá. E agora, vemos o futebol seguindo o caminho de tudo o que se vê no Brasil. Pobre não tem escola. Pobre não tem saúde. Pobre não tem casa. Pobre não tem comida. Pobre não tem justiça. Por que teria futebol?

O caminho da higienização está pavimentado. Não há pobres nos estádios. Não há estádios. As arenas criadas para a Copa hoje são elefantes brancos. Mas a ideia da elitização está aí. Os sócios torcedores tem toda a preferência. Quanto mais rico, mais vai ao campo.

Pobre? Pague o pague para ver da televisão. Mas pobre não tem dinheiro para isso. Vai para um bar, convide os amigos, escute no radinho de pilha, cultive sua paixão de maneira subterrânea. Ou então, vá jogar uma pelada. Se achar um campinho, não é?

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.