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Aderllan e Deyverson, a dupla do amor

Menon

21/07/2017 11h10

Há alguns anos, Aderllan e Deyverson poderiam formar uma boa dupla caipira. Mas o advento do tal sertanejo universitário – que certamente teria lugar entre as sete pragas do Egito – inibiu até essa característica nacional de unir dois nomes estranhos e uma viola. Hoje, é um tal de bruninho, ruan, dionatan  e outros.

O que une Aderllan e Deyverson não é a música, apesar das tendências pagodísticas do novo atacante do Palmeiras e sim uma torrente de paixões, uma cascata de emoções que trouxeram ao futebol no dia da apresentação em seus novos clubes.

Não só pela história de vida de cada um, sem dinheiro para treinar, sem ter chuteira, tentando desesperadamente ganhar a vida como segurança de micareta ou cantor de pagode sem talento, mas a alegria de chegarem ao novo clube e de mostrarem amor por ele.

Deyverson disse uma coisa acaciana, claríssima e que muita gente não percebe: jogar no Palmeiras é um avanço enorme para quem saiu do Levante para o Alavés. Por que? Porque o Palmeiras é enorme, é um gigante, é clube do nível de Barcelona e Real Madrid. Sim, o Palmeiras não é de uma cidade, como Valência ou Sevilha, é de um país.

Aderllan contou uma das contradições da vida, uma daquelas que trazem emoção a quem ouve. É a dicotomia do sempre/nunca. Sempre foi são-paulino e nunca teve dinheiro para ter uma camisa do clube. E agora, vai vestir a dele, com seu nome.

Ambos demonstraram prazer e emoção em seu primeiro dia no novo clube. Não foi aquilo de beijar o escudo e de fazer frases demagógicas como deixarei meu sangue em campo. Não, foi um choro verdadeiro e sem nenhum marketing. Ou são grandes atores ou são pessoas felizes por estarem cumprindo um sonho de vida.

Não sei vocês, mas eu até deixei de gostar um pouco de futebol depois que apareceu uma nova categoria de jogadores: são autômatos que tratam o clube como barriga de aluguel. Ficam por ali enquanto não vem outra oferta. Não se comprometem, a não ser – vá lá – apenas dentro de campo. Não demonstram nenhuma preocupação em ficar ou sair. A resposta é sempre a mesma: pra mim não chegou nada, meu foco é aqui e meu empresário é que cuida disso. No dia seguinte, se vão.

Os jogadores atuais – desculpem a generalização – não tem a menor vontade de fazer história em um clube. Não sentem aquele prazer sádico de dividir e unir uma cidade ao mesmo tempo. Ser amado por metade dela, ser odiado por outra metade e ser respeitado pela totalidade.

A oportunidade de amar e ser amado por uma instituição é deixada de lado quando se trata da definição da carreira. Deixo claro aqui que não sou eu que irei dizer que jogador não deve ganhar dinheiro e não deva buscar o melhor financeiramente para si. Mas não consigo ver qual a vantagem em desrespeitar um clube de futebol, em desprezar um cabedal de paixão que é um clube de futebol. Quem respeita um clube, respeita o futebol, respeita a profissão.

Aderllan e Deyverson deram mostras de respeito e amor a São Paulo e Palmeiras. Foi um passo enorme para ganharem um lugar na história gloriosa dos dois gigantes.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.